Passados quase quatro meses após o fechamento das escolas, aos poucos o comércio, as academias, os shoppings e os salões de beleza reabriram, mas a volta às aulas se mostra como algo quase utópico aos porto-alegrenses. Enquanto vemos o retorno às aulas sendo considerado de extrema importância para alguns países, para muitos por aqui é considerado um luxo desnecessário. É aí que vemos o real valor que é atribuímos ao ensino.
Em Porto Alegre, menos de 30% dos alunos estão na rede privada. Por isso, é muito mais fácil beneficiar outros setores. Afinal, se o estudo é gratuito, ninguém está vendo o custo oculto de manter as escolas fechadas. Mas em um Estado onde greves que duram muitos meses são toleradas pelos pais, quem se dará o trabalho de se mobilizar em plena pandemia a falar sobre o retorno das aulas?
E agora, ao nos depararmos com o poder público,que pode colocar na mesma cesta os alunos da rede privada, vemos que a passividade diante da baixa preocupação quanto ao estudo não é mais a mesma. Os pais da rede privada pesquisam arduamente qual a melhor escola para seus filhos, pensam todo mês como farão para pagar o boleto da escola (afinal educação privada é realmente um luxo). Por isso, nós somos vigilantes quanto ao aprendizado dos nossos filhos.
Aos poucos, estamos vendo que outros países retornam às aulas, aos poucos vamos vendo mais claramente através de estudos a baixa presença da Covid-19 em crianças. Aos poucos, vamos vendo que estamos nos dando ao luxo de frequentar salões de beleza, restaurantes, comércio que respeitem os protocolos, mas não demos chance que nossas escolas nos mostrem sua capacidade de seguir protocolos, para darmos um luxo que nossos filhos não têm há mais de 100 dias.
No meio do caminho estão nossas crianças, que sofrem caladas pela falta de diálogo e bom senso dos adultos que as cercam. Afinal, no que tange a educação, estamos conseguindo apenas enxergar o homeschooling ou salas lotadas. E lá vamos nós, para mais 15 dias, na expectativa de voltarmos à bandeira laranja. Acreditar que a Educação está incluída nesta próxima bandeira se mostra utópico. Em um município sem protocolos para a reabertura, caberá a nós, pais e professores, sairmos da zona de conforto e lutarmos pelo futuro das nossas crianças!
Empreendedora e ativista da Educação, mãe de dois filhos