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Opinião

- Publicada em 15 de Abril de 2020 às 03:00

O rosto de Mara

Mara Rúbia Silva Cáceres morreu. Era técnica de enfermagem e trabalhava na Emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição. Foi contaminada pelo novo coronavírus, assim como muitos colegas seus que trabalham na linha de frente, atendendo os doentes que chegam nos hospitais. Tinha apenas 44 anos. Pode ser que possuísse alguma doença prévia que tenha agravado seu quadro, mas isso não faz diferença. Ao contrário de nós que podemos fazer isolamento, os profissionais da saúde não têm escolha: precisam se apresentar para a guerra.
Mara Rúbia Silva Cáceres morreu. Era técnica de enfermagem e trabalhava na Emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição. Foi contaminada pelo novo coronavírus, assim como muitos colegas seus que trabalham na linha de frente, atendendo os doentes que chegam nos hospitais. Tinha apenas 44 anos. Pode ser que possuísse alguma doença prévia que tenha agravado seu quadro, mas isso não faz diferença. Ao contrário de nós que podemos fazer isolamento, os profissionais da saúde não têm escolha: precisam se apresentar para a guerra.
Os estudos demonstram que eles possuem risco três a quatro vezes maior de serem contaminados, independentemente da idade e das condições pessoais. A exposição cotidiana e concentrada ao vírus os torna alvos mais fáceis, o que significa dizer que o risco de contraírem a doença é objetivo e intrínseco à atividade profissional e clara é a responsabilidade dos empregadores pela proteção desses trabalhadores, apesar da tentativa da criminosa Medida Provisória nº 927/20 de afrouxar a fiscalização das condições de trabalho e de descaracterizar a Covid-19 como doença ocupacional.
Primeira profissional da saúde a morrer pelo trabalho no Estado, Mara era mulher, talvez mãe. É o rosto que nos lembra que as mulheres são a imensa maioria dos trabalhadores em hospitais que adoecerão e morrerão por nós, muitos deles anonimamente.
Foi apenas a primeira, infelizmente. Sem equipamentos de proteção individual adequados, sem afastamento de trabalhadores do grupo de risco e sem testagens coletivas, sua morte tende a se tornar ordinária.
Fico pensando, sem resposta: que conta fazemos? O que nos autoriza a decidir que a vida desses trabalhadores vale menos que a nossa? A pandemia não é um livro de fotos históricas, que folheamos como um passado que não nos tocou.
Vejo na internet o rosto de Mara, ele nos inunda de realidade e nos invade a vida. Que o seu sorriso seja a memória de que não podemos enviar soldados desarmados para a guerra, pois ela é bruta e é real.
Advogada
 
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