Você prefere morrer da Covid ou de fome? Em épocas normais, a resposta a essa pergunta seria simples: de nenhum dos dois! Contudo, em tempos de pandemia, de quarentena e, sobretudo, de sociedade extremamente polarizada, esse questionamento tem provocado acalorados debates nas redes sociais. E ocasionou uma nova fissura em um País que, há algum tempo, tem convivido com uma rixa política acima do razoável.
Não tenho a pretensão de apontar respostas para a crises sanitária e econômica que assolam o mundo inteiro. Afinal, se boa parte dos líderes mundiais, auxiliados por renomados especialistas, estão com dificuldade para encontrar saídas, resta-me ter humildade. Ouço os caminhos apontados por aqueles que dedicam suas vidas a estudar esses temas: infectologistas e economistas.
Bem, então qual o objetivo deste artigo? Alertar que esse acirramento de ânimos, essa forma de pensar o mundo como se fosse um "tudo ou nada" ou um "nós x eles", pouco auxilia na solução dos desafios – especialmente de problemas complexos como esses que estamos enfrentando.
A pandemia necessita ser encarada com máxima preocupação, como bem ilustram os dados divulgados diariamente. Por outro lado, é inconteste: não há como deixar de atentar para todos os problemas de ordem econômica decorrentes de um combate efetivo ao novo coronavírus.
Em uma sociedade marcada por tantas certezas, a resolução dessa equação exige prudência e a aplicação da antiga lição de Sócrates: "Só sei que nada sei". A construção de uma efetiva resposta a essas questões somente será possível se o mundo tiver serenidade, equilíbrio e bom senso. Ao invés de ficarmos buscando apenas ter razão, defendendo a qualquer custo um determinado ponto de vista, o momento pede que todos se desarmem e passem a ouvir mais, respeitar mais e discutir com seriedade, atentando sobretudo para o que dizem as partes técnicas.
A hora é de humildade, união e espírito coletivo – e não de destruição daqueles que pensam diferente de nós. A pluralidade é algo salutar! Ninguém é dono absoluto da razão, e a empatia é uma faculdade que auxilia sobremaneira na compreensão da nossa condição humana. Que este difícil período também sirva para que afastemos a pandemia da polarização excessiva. E possamos, sob o sopro de ares de solidariedade e humanismo, estabelecer novos níveis de debate e construção de uma sociedade efetivamente livre, justa e plural.
Procurador do Estado do Rio Grande do Sul e ex-presidente da Apergs