Atividade física para melhorar a produtividade

Marcelo Silveira da Costa

Atualmente, o tema atividade física tem sido amplamente discutido como uma das importantes ferramentas para melhorar a saúde e qualidade de vida da população. Entretanto, pouco tem sido abordado o tema nas indústrias, empresas e comércio. Será que a falta de abordagem e combate ao sedentarismo no trabalho é porque existe o pensamento que a atividade física é um benefício apenas ao trabalhador? Recentemente, a pesquisadora dinamarquesa Gisela Sjøgaard publicou um trabalho que chamou muita atenção: "Exercise is more than medicine: The working age population’s well-being and productivity". A partir disto, escrevo este artigo discutindo pontos fundamentais. 

 

As empresas deixam de faturar bilhões de dólares anualmente por causa da perda produtiva de seus funcionários, sendo o absenteísmo (faltar ao trabalho) e o presenteísmo (ir trabalhar com alguma doença) os maiores causadores deste impacto negativo nas finanças. Apesar de o absenteísmo ser facilmente visto e encarado como o alvo pelas empresas para compensar a redução na produtividade, o presenteísmo é o seu maior vilão, pois este é silencioso, principalmente por causa do medo do funcionário perder o emprego quando o mesmo pede afastamento para tratar algum problema de saúde. O funcionário não fala nada, continua trabalhando, e a doença piora a cada dia, reduzindo, gradualmente, a sua capacidade produtiva. 60% dos funcionários vão trabalhar com problemas de saúde!

Os maiores causadores do presenteísmo são as lesões osteomioarticulares, ansiedade e depressão. Porém, a ótima notícia é que programas de exercícios físicos estruturados dentro das próprias empresas mostram reduções significativas não apenas no presenteísmo, mas também no absenteísmo. Na Dinamarca, foi desenvolvido o conceito de treinamento físico inteligente, que é um programa de atividades físicas de aproximadamente 60 minutos/semana aplicado no próprio ambiente da empresa e que respeita as individualidades físicas e de saúde de cada funcionário. Os funcionários que participaram deste método relataram reduções muito significantes nas dores em pescoço, braços e costas, além do aumento da autoestima e da melhora nos exames sanguíneos. Isso contribuiu para a maior capacidade produtiva dos trabalhadores, mesmo com a redução de 1 hora semanal na jornada de trabalho para a prática dos exercícios físicos, e na redução do custo com assistência médica e farmacológica.

Este método desenvolvido na Dinamarca tem sido mais efetivo que o tradicional ressarcimento financeiro para o funcionário que pratica suas atividades físicas em academias fora do horário de trabalho. Essa diferença se deve principalmente às barreiras para a atividade física. Por exemplo, um funcionário padrão que trabalha oito horas mais uma de intervalo fica 10 horas longe se casa se considerarmos o deslocamento médio. Se tiver família e filhos pequenos, vai preferir ir pra casa a ir para uma academia lotada. Se a jornada de trabalho é intensa, vai direto pra casa. Se for jovem e estudar no contra turno, não terá tempo para fazer alguma atividade física. Desta forma, a atividade física no próprio local de trabalho é mais efetiva, pois consegue atingir todos os funcionários com o mesmo propósito. Ainda, a prática das atividades físicas em grupo pode promover uma maior socialização na empresa e transformar o local de trabalho um ambiente mais harmônico.

Além disso, implantar um programa de exercícios físicos na empresa dá dinheiro. Isso mesmo! Para cada dólar investido na implantação de programas de saúde, há o retorno de 3,4 a 6 dólares para a empresa em função do aumento da produtividade dos funcionários e a redução em assistência médica e farmacológica. Lembre se, a saúde não é apenas estar livre de doenças, mas também estar em condições físicas e psíquicas para desempenhar com vigor e disposição as tarefas cotidianas, seja em casa, no lazer ou no trabalho!

Preparador físico, pós-doutor em Bioquímica/Ufrgs