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Opinião

- Publicada em 20 de Fevereiro de 2020 às 16:06

Botar ou tirar a fantasia?

Montserrat Martins
Carnaval é quando se bota ou é quando se tira a fantasia? Sendo que estamos presos a papéis sociais o ano inteiro, na sociedade, no trabalho e na família, o que é que cada um queria ser, de verdade? O bom do Carnaval é botar a máscara de quem a gente quiser e brincar de ser aquela pessoa, naquela noite.
Carnaval é quando se bota ou é quando se tira a fantasia? Sendo que estamos presos a papéis sociais o ano inteiro, na sociedade, no trabalho e na família, o que é que cada um queria ser, de verdade? O bom do Carnaval é botar a máscara de quem a gente quiser e brincar de ser aquela pessoa, naquela noite.
Botar uma fantasia é terapêutico, brincar desestressa, o espírito do Carnaval é necessário nesses tempos sisudos, hostis, onde as pessoas se odeiam por ideologias, por formas de pensar diferentes, onde pensam que “o inferno são os outros” - como disse Sartre, com ironia, só que as pessoas hoje pensam assim, sem perceber a ironia. Uma das mais importantes lições da Psiquiatria é que os loucos não têm dúvidas, pois a loucura está exatamente na falta de senso crítico, de juízo crítico e de autocrítica. Nada mais sadio, portanto, que poder rir de si mesmo. Perigosas são as pessoas que se levam a sério demais e não têm dúvida sobre aquilo no que acreditam cegamente.
Qual seria a fantasia do governo do Brasil em 2020? Poderia ser o Capitão Nascimento do primeiro Tropa de Elite, mas o personagem se tornou mais complexo e politizado em Tropa de Elite 2, onde “o inimigo agora é outro”, as milícias. Melhor não. A fantasia mais segura para o governo é o clássico valentão Chuck Norris, que distribui porradas e atinge todo mundo, mas que ninguém acaba com ele. Nada simboliza melhor esse governo para o qual, claramente, “a melhor defesa é o ataque”, onde qualquer crítica é rebatida com uma violência maior.
E qual seria a fantasia da oposição em 2020? Frida Kahlo, por exemplo, símbolo da libertária que não se intimida com machismos. É a antítese de força bruta, mas com uma força moral que intimida, é a que põe o dedo na ferida. A anti-machismo, a anti-autoritarismo, a anti-convencional, uma versão mais moderna do ícone revolucionário Che Guevara, porque a revolução, agora, também é outra. Ou numa versão mais contemporânea das polêmicas brasileiras de 2020, talvez a “Empregada Doméstica na Disney” em ironia às declarações do Paulo Guedes.
Por fim, qual seria a melhor fantasia para os que rejeitam as polêmicas e assuntos políticos? Homer Simpson? Coringa? Arlequina? Deadpool? Poderiam ser até Os Minions, se eles não tivessem virado adjetivo. Ou pra quem prefere a ironia de um “clássico” infantil, poderia ser a Galinha Pintadinha? Ou seriam os “Youtubers”? Vai ter máscaras de Whindersson Nunes nesse Carnaval?
Rir de si mesmo é qualidade de vida, saber levar a vida “na esportiva” é a verdadeira felicidade, ao invés da vida tensa dos “donos da verdade” de todas as crenças e ideologias. Nos tempos tensos atuais o verdadeiro espírito do Carnaval se torna ainda mais necessário, dando espaço para a capacidade de rir, brincar, ironizar, deixar aparecer nossas fantasias ou, pensando psicologicamente, de deixar aparecer as fantasias que trazemos guardadas sem coragem de mostrar. Cada criança que acha que é o Homem Aranha ou a Mulher Maravilha representa um pouco dos adultos também, das nossas fantasias de superpoderes, de sermos heróis e idolatrados. Aproveite seu Carnaval, libere sua criança interior, sua saúde agradece, sua felicidade merece.
Psiquiatra, autor de “Em busca da Alma do Brasil”
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