Salinas: ondas do mar se curvam em acalanto

Razão assiste em parte ao Fernando Albrecht em sua coluna Começo de Conversa (Jornal do Comércio, edição de 11/02/2020): o fim das casas de praia... Rumo à verticalização total.

Na praia de Salinas, no litoral do Rio Grande do Sul, os espigões não têm vez. Faz parte do projeto original o impedimento. Lá, somente chalés e prédios de dois andares. Nordestão corre livre e solto. A longa e charmosa Plataforma de Pesca é referência obrigatória para quem circula na beira-mar.

Salinas tem vocação especial. Suas ruas tem nomes homenageando compositores, cantores e cantoras da música popular brasileira. A família Côrtes, por exemplo, veraneia na rua Clara Nunes - a sabiá.

Aquelas ondas são as preferidas por surfistas de todo o Estado. Dizem serem as melhores para singrar o mar. O ar e mar de lá curam nostalgia, angústia, depressão, bipolaridade, mau humor e mal de amor. Os casais circulam de mãos dadas e trocam carinhos. Almas bafejam romantismo. Por vezes sobre uma montanha de areia, não só vi como enxerguei molduras de quadros que lembram artistas plásticos na linha de Américo Souza, Guaraci Feijó e Túlia Silva. Sem falar em composições e poesias da também talentosa Delma Gonçalves.

Agradecidas às ondas brancas, espumam acariciando pés dos sentimentais. Observo aquele recanto do mar, como se fosse imensa piscina com bordas de mármore Carrara, tendo por cenário o céu de brigadeiro, sem nenhuma nuvem.

Acalanto é titulo do quadro que narro para imaginação do leitor, pois quem assina no canto da tela com certeza é o Grande Arquiteto do Universo.

Ainda não disse tudo. Existe também um Salão Grená, bem ao estilo do descrito pelo saudoso Coly Filho nas antigas ondas da Rádio Tupy. A Associação Amigos Praia de Salina (ASAPS). Bailarinos fazem seus passos no compasso que vai do bolero de rosto colado ao samba. O filme Perfume de Mulher, com Al Pacino, é inspiração para o tango bem cortado.

Concluo ouvindo em quase silêncio Lupicínio Rodrigues na música Margarida. Quando toma banho/ Na praia toda encolhida/ As ondas do mar se curvam/ Ante as curvas da Margarida.

Enfim, meu saudoso irmão Gidinho, pescador daquela plataforma, dizia que em noite de lua cheia era possível ver movimento do bailado das sereias. Mas isso já outra história.

Escritor