Dicotomia, polarização, pensamentos sectários, jamais opiniões conciliadoras, tal qual uma partida de futebol e seus torcedores. Este é o mundo que vivemos, onde o pensamento crítico e analítico parece ter desaparecido. Entretanto, antes da era digital, as pessoas tinham que ter conhecimento e argumentos sobre o assunto para expressar sua opinião publicamente. Com o advento das redes sociais, cada vez mais fortes, todos tiveram a possibilidade de opinar, e viraram arautos da verdade, a qual proclamam em alto e bom som. As suas verdades, ressalte-se, sem argumentos, na quase totalidade das vezes.
Por outro lado, a veia manipulatória dos algoritmos nos comandam, e sorrateiramente, nos aproximam dos iguais, contribuindo para a impossibilidade de troca de ideias. Orgulhosos da sua verdade inexpugnável as pessoas brigam e atacam sem dó nem piedade, tanto nas redes, quanto na própria convivência social. A máxima comportamental dominante passou a ser "Quem não pensa como eu, precisa ser agredido". A luta pelo poder e pela posse da verdade está no comando. Às custas deste pensamento sectário, polarizador e sem consistência, o Brasil tem perdido o trem da história, já que a meta predominante é de que é preciso derrubar, nos cargos públicos, tudo o que o antecessor (e inimigo) fez.
Historicamente, os dogmas - verdades indiscutíveis - que hoje predominam nas redes sociais, sempre estiveram reservados às igrejas e aos fanáticos de qualquer ordem. E a questão da verdade, tema dos mais caros à tradição ocidental e fonte de investigação que se confunde com a própria história da Filosofia, tem sido pensada e discutida de forma não- dogmática desde a Grécia antiga, de forma não dogmática.
Felizmente, aos intelectuais ainda são exigidos à exaustão provas e estudos em teses que defendem nos bancos acadêmicos ou nas comunidades científicas. No entanto, na imensa praça pública das redes sociais, nada é exigido. Todos são donos da verdade. E pobre de quem ouse contrariar....
Dialogar implica, fundamentalmente, expressar com clareza as próprias ideias, escutar o outro, admitir que uma percepção diferente possa existir e ser legítima.
Será que não poderíamos fazer o exercício de pensar de forma mais holística, mais construtiva, menos sectária? Talvez possamos contribuir para um País melhor pelo exercício consciente da nossa cidadania para além do simples conflito.
Jornalista