Nelson Gonçalves, cantor

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa tudo sempre passará. Este trecho, da canção ‘Como uma Onda’, de Nelson Motta e Lulu Santos, abre a última gravação, num total de 128 discos, do intérprete nascido em Santana do Livramento no dia 21 de junho de 1919, barítono Antônio Gonçalves Sobral, o Rei do Rádio. A voz silenciou em 18 de abril de 1998, no Rio de Janeiro.

Os pais eram de Lisboa, e São Paulo descortinará o prelúdio do jovem magro e gago às ruas do Brás, do engraxate e acompanhante de violino às feiras e noites de sarau. Mesmo como garçom da Av. São João, almejava o público. Para tanto partiu com a mulher e dois filhos para o subúrbio do RJ a uma jornada escarpada. Nos shows de calouros e rádios, fez testes. Das reprovações, persistiu tenaz, mesmo desencorajado por Ary Barroso.

Por conta, cantou em bares noturnos, hotéis e, em 1941, do peregrinar com a voz e chapéu recolhendo gorjeta, foi aprovado na Rádio Mayrink Veiga. Lançou, do total de 183, o 1º LP em 78 rotações. Nascia O Rei do Rádio ou O Boêmio, nos sucessos ‘Meu Vício É Você’, ‘Renúncia’, ‘Fica Comigo Esta Noite’ e, a poderosa ‘A Volta do Boêmio’.

Em 1968 enfrentou crise de casamento e, da depressão, tentou suicídio. O alcoolismo o derrotou. Porém, foi como usuário de cocaína até 1980, drama brutal, a heroísmo da esposa é Musa. Preso em flagrante por porte de drogas, conheceu o cárcere. O episódio afetou a atividade artística. A mulher, Maria Luiza da Silva, o ergueu.

Do tratamento psiquiátrico, à desintoxicação, o cantor renasce. Lançou o disco A Volta do Boêmio nº1, de grande impacto. Revigorado, Interpretou Lobão, Ângela Rô Rô, Kid Abelha, Legião Urbana. A poesia do amor, das décadas de 80 e 90 aplaudiu a entonação vocal. Somam 38 discos de ouro. Mesmo o Premio Nipper, da RCA, pela fidelidade à gravadora, não ofuscou os milhões de LPs e CDs vendidos.