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Opinião

- Publicada em 27 de Maio de 2019 às 03:00

O mentor é o presidente

Rita Michel
A lógica que prevaleceu durante décadas no âmbito social era de que ter informação significava poder, sendo sua utilização restrita a poucos e limitada ao contexto de origem - pessoal ou profissional. A proliferação das redes sociais entre as diferentes escalas da pirâmide social fez mudar o paradigma - ou seja - o compartilhamento da informação é que confere poder a quem o faz. Com a diferença de que não há mais controle do alcance e contexto. A informação, ao se tornar "cena explícita", pode ser equivalente a jogar no mercado de futuros - o risco negativo não se exclui pelo compartilhamento, ao contrário, pode ser potencializado.
A lógica que prevaleceu durante décadas no âmbito social era de que ter informação significava poder, sendo sua utilização restrita a poucos e limitada ao contexto de origem - pessoal ou profissional. A proliferação das redes sociais entre as diferentes escalas da pirâmide social fez mudar o paradigma - ou seja - o compartilhamento da informação é que confere poder a quem o faz. Com a diferença de que não há mais controle do alcance e contexto. A informação, ao se tornar "cena explícita", pode ser equivalente a jogar no mercado de futuros - o risco negativo não se exclui pelo compartilhamento, ao contrário, pode ser potencializado.
A primeira experiência de mentoria acontece no núcleo familiar e serve para acelerar nosso desenvolvimento e para estarmos aptos à sobrevivência física e moral. O que nossos pais (primeiros mentores) dizem se torna bem menos importante do que suas ações, e contribui para delimitar as fronteiras que nos separam do pequeno mundo em que nascemos para o mundo real onde vivemos.
Quando essa noção de limites não fica clara, corre-se o risco de uma inversão de papéis e quem passa a exerce o poder de fato são os filhos. Vivemos um paralelo desse tipo de inversão de papéis no Brasil quando o presidente outorgado pelo povo como "mentor" permite que os filhos, sem a prerrogativa de referendos, plebiscitos e outros instrumentos legais, exerçam a autoridade em seu nome e definam quem permanece e quem sai do governo. A mentoria preconiza que quando o assunto envolve situações de crise, a senioridade do mentor em termos de experiência e conhecimento faz a diferença e precisa prevalecer em detrimento da impulsividade e sede de poder que caracteriza o contexto de vida e carreira de alguns adultos jovens. No caso que envolveu o ministro da Secretaria-Geral da República, caberia ao presidente (mentor) escutar as partes e compartilhar suas percepções com base em seu conhecimento e prática na esfera política. Orientar o filho sobre a importância da parcimônia e do cuidado com a própria reputação e de seu mentor - presidente da República e pai.
O exercício da democracia se fragiliza quando o presidente (mentor) se mostra tão susceptível à influência familiar, sendo induzido pelo filho para que prevaleça a verdade defendida por este. O cenário pode resultar num eleitor que, ao sentir-se traído, suscita desconfiança e ressentimento em vez de comprometimento. Além disso, pode existir o risco de que se estabeleça uma espécie de "estado de natureza" descrito pelo filósofo Thomas Hobbes. Neste estado, os membros da corte são jogados uns contra os outros, e boa parte faz vista grossa para as infrações cometidas por aquele que recebeu a outorga de mentor - o presidente. Num estado de governo hobbesiano, a vida na corte pode tornar-se bastante desfavorável, árida e de curta duração.
Psicóloga
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