A semana será decisiva para o futuro do projeto de revitalização do Cais Mauá. Com parecer da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), o governador Eduardo Leite (PSDB) vai decidir se adota um novo modelo de contrato com o Consórcio Cais Mauá, para a revitalização da área, ou se rescinde o contrato.
O consórcio vencedor tenta uma renegociação com o governo. Porém, após nove anos de concessão, as obras de revitalização não saíram do papel e os armazéns não foram restaurados.
Além disso, para procuradores, ocorreu o descumprimento da apresentação das garantias financeiras para execução do projeto, exigidas no edital. Também ocorreu inadimplência do Consórcio Cais Mauá no pagamento dos aluguéis e arrendamentos previstos.
Em novembro de 2013, o então prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, visitou o que seria o início das obras de revitalização do Cais Mauá. O prefeito inspecionou os trabalhos de limpeza. Mas a obra em si não foi adiante.
A primeira etapa previa investimentos privados de R$ 150 milhões, destinados à restauração do conjunto de 11 armazéns cedidos ao consórcio vencedor da licitação realizada em 2010 para a exploração comercial do espaço.
Agora, o desfecho está agora com o governador Eduardo Leite, que já manteve encontro com o prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), quando abordaram a demora na implantação do projeto.
O Consórcio Cais Mauá pediu que o governo do Estado anistiasse toda a sua dívida passada e ainda prolongasse a concessão. Desde que venceu a licitação, na qual concorreu sozinho, o consórcio deveria pagar soma ao governo gaúcho pelo usufruto da área.
Após acurada análise, o grupo de trabalho formado por integrantes da Secretaria dos Transportes e da Superintendência do Porto do Rio Grande sugeriu que o contrato de revitalização do Cais Mauá fosse rescindido, o que foi confirmado pela PGE.
Evidentemente, não é uma notícia recebida com alegria, pois este é um projeto sonhado, de reuso do porto construído em 1913, com os armazéns importados desmontados da Europa, para a construção do cais da Capital.
Há anos havia uma feliz expectativa dos cidadãos de Porto Alegre, justamente para que a revitalização nos desse algo nos moldes de Puerto Madero, de Buenos Aires, do porto de Lisboa ou mesmo de Belém do Pará.
Por ali saía e chegava todo tipo de mercadoria para a Capital. Cada armazém tinha um chamado de Ajudante Fiel do Porto, espécie de gerente da administração e segurança das mercadorias. Na enchente de 1941, a água subiu até mais de metro e alguns dos armazéns ainda mantêm placas assinalando a data e a altura em que chegaram as águas do Guaíba. Uma tragédia, em uma cidade com cerca de 500 mil habitantes e que ficou dias e dias sem luz, sem bondes e sem a água encanada.
Agora, após tantas idas e vindas na revitalização do Cais Mauá, a cidade aguarda um desfecho e tem pressa para ocupar e desfrutar de tão valiosa área desocupada, com seus amplos armazéns onde ainda ecoam - na memória de muitos - as figuras e os lamentos dos cansados estivadores carregando sacos dos navios ou para eles os levando.
Ali está uma boa parte da história de Porto Alegre. Infelizmente, o tempo despendido em tratativas inúteis desgastou a ideia. Agora, ela também deverá ser revitalizada.