Hino na escola?

Tem razão Hamilton Mourão quando afirma que o civismo é importante. Também acerta Hélio Schwartsman ao ponderar que o nacionalismo "em doses baixas, é um elemento valioso para dar a grupos populacionais cultural e economicamente heterogêneos um senso de comunidade, o que facilita a cooperação". Contudo, a iniciativa do Ministério da Educação conseguiu a proeza de desagradar a imensa maioria das pessoas, de todas as preferências políticas. Vamos resumir o fato. Seguindo os passos de Getúlio Vargas (1936), Médici (1971) e Lula (2009), o ministro da Educação "recomendou" que as escolas executassem o Hino Nacional, apresentando um texto a ser lido na ocasião: "Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!" Os adeptos do "Escola Sem Partido" logo visualizaram o equívoco de um órgão oficial (MEC) "sugerir" para todas as escolas a lembrança de um slogan de campanha ("Brasil acima de tudo, Deus acima de Todos").

Pessoas favoráveis à autonomia pedagógica das escolas (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) desaprovaram essa indevida interferência do Estado no ambiente escolar. Ainda mais grave é o fato de o ministro ter solicitado aos funcionários que gravassem a execução do hino e remetessem os vídeos para Brasília. Crianças não devem ser filmadas ou expostas, salvo com a autorização dos pais. Qual era a finalidade de se captar a imagem de crianças? Sei que falar de privacidade é algo que soa ultrapassado, afinal as pessoas, no dia a dia, se expõem voluntariamente, sem qualquer preocupação. Sem o consentimento dos envolvidos, a imagem não deve ser usada. Os pais têm o direito de refletir quanto à utilidade do uso da imagem dos filhos. E têm o dever de evitar exposições que, na sua visão, prejudiquem a sua formação. Mas, infelizmente, muitas pessoas acreditam que todos teríamos o direito de fotografar, gravar, postar aquilo que desejarmos. Enquanto a sociedade não revisar essa ideia, o volume de ofensas pela internet (e outros fenômenos correlatos, como o cyberbullying) não parará de crescer. Isso sim é uma ameaça real e diária para todas as famílias.