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Opinião

- Publicada em 07 de Março de 2019 às 01:00

Pelo direito de sermos

Em algum momento de 2017, enquanto folheava os processos criminais do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, encontrei Francelina, uma das poucas mulheres que estão não entre as vítimas, mas entre as rés. Depois de uma vida marcada por agressões e abusos, ela matou o marido a golpes, com uma mão de pilão, em novembro de 1940. O caso, que é meu tema de pesquisa no mestrado em História pela Unicamp, assusta, e o fato é que estamos mais familiarizados com o avesso dessa história: as tantas mulheres que são mortas por seus companheiros, principalmente no País em que nove mulheres são agredidas por minuto (Datafolha/FBSP, 2019), enquanto 13 são assassinadas por dia (Ipea/FBSP, 2018). São dados alarmantes, marcas de um País formado pela cultura do estupro, pela violência e pelo machismo, e que ainda assim propõe conselhos (ou seriam piadas?) esdrúxulos, como aquele dado aos pais de meninas para que fujam do Brasil. Lembremos que o lugar que ocupamos hoje, enquanto mulheres, não é um lugar dado, mas produto de uma luta histórica. Se podemos escolher quem vamos ser, ocupar o mercado de trabalho, votar, optar pela maternidade ou não, foi porque, antes de nós, muitas questionaram a posição que nos foi reservada: aquela em que não podíamos estar no mundo senão para responder ao masculino e sermos submissas. Dessa forma, temos visto que outros modelos de vida são possíveis, que estamos para além da passividade e dos papeis sociais que nos foram impostos. Conseguimos expandir nossas possibilidades, mas ainda precisamos de mais para que um outro não tenha o direito sobre a nossa vida e a morte. Então, que hoje pensemos menos nas flores e mais no quanto deve ser feito para que o simples fato de ser mulher não coloque nossas vidas em risco. E que pensemos, não em abandonar nosso País, mas no que podemos fazer para mudá-lo, afinal de contas, "Ni una a menos!" (Referência a protestos ocorridos na Argentina, Chile e Uruguai contra a violência de gênero em 2015, após o assassinato brutal de cinco mulheres).
Em algum momento de 2017, enquanto folheava os processos criminais do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, encontrei Francelina, uma das poucas mulheres que estão não entre as vítimas, mas entre as rés. Depois de uma vida marcada por agressões e abusos, ela matou o marido a golpes, com uma mão de pilão, em novembro de 1940. O caso, que é meu tema de pesquisa no mestrado em História pela Unicamp, assusta, e o fato é que estamos mais familiarizados com o avesso dessa história: as tantas mulheres que são mortas por seus companheiros, principalmente no País em que nove mulheres são agredidas por minuto (Datafolha/FBSP, 2019), enquanto 13 são assassinadas por dia (Ipea/FBSP, 2018). São dados alarmantes, marcas de um País formado pela cultura do estupro, pela violência e pelo machismo, e que ainda assim propõe conselhos (ou seriam piadas?) esdrúxulos, como aquele dado aos pais de meninas para que fujam do Brasil. Lembremos que o lugar que ocupamos hoje, enquanto mulheres, não é um lugar dado, mas produto de uma luta histórica. Se podemos escolher quem vamos ser, ocupar o mercado de trabalho, votar, optar pela maternidade ou não, foi porque, antes de nós, muitas questionaram a posição que nos foi reservada: aquela em que não podíamos estar no mundo senão para responder ao masculino e sermos submissas. Dessa forma, temos visto que outros modelos de vida são possíveis, que estamos para além da passividade e dos papeis sociais que nos foram impostos. Conseguimos expandir nossas possibilidades, mas ainda precisamos de mais para que um outro não tenha o direito sobre a nossa vida e a morte. Então, que hoje pensemos menos nas flores e mais no quanto deve ser feito para que o simples fato de ser mulher não coloque nossas vidas em risco. E que pensemos, não em abandonar nosso País, mas no que podemos fazer para mudá-lo, afinal de contas, "Ni una a menos!" (Referência a protestos ocorridos na Argentina, Chile e Uruguai contra a violência de gênero em 2015, após o assassinato brutal de cinco mulheres).
Mestranda em História
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