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Opinião

- Publicada em 13 de Janeiro de 2019 às 01:00

A doença como metáfora

Montserrat Martins
Analisando como doenças graves (câncer, Aids) são vistas em nossa cultura, A doença como metáfora, de Susan Sontag, é uma obra preciosa sobre o ser humano. Carregado de conotações pejorativas no imaginário popular, suscita crenças milenares que vão do "castigo divino" até interpretações do tipo "alguma ele fez", que culpam o doente pela doença, para alívio psicológico dos que não a têm.
Analisando como doenças graves (câncer, Aids) são vistas em nossa cultura, A doença como metáfora, de Susan Sontag, é uma obra preciosa sobre o ser humano. Carregado de conotações pejorativas no imaginário popular, suscita crenças milenares que vão do "castigo divino" até interpretações do tipo "alguma ele fez", que culpam o doente pela doença, para alívio psicológico dos que não a têm.
O outro lado da moeda é a evocação de estados patológicos como defesa para condutas ilícitas, numa ampla gama de comportamentos previstos juridicamente, que vão desde atos cometidos "sob violenta emoção" até a alegação de insanidade mental para desculpabilizar o réu, dos quais o argumento preferido é o do "estado de insanidade temporária".
Uma doença grave pode ser usada para justificativas variadas, também. O ex-assessor Queiroz afirma que depois de tratar o câncer irá dar as explicações devidas sobre as suas movimentações financeiras de mais de R$ 1,2 milhão, incompatível com sua renda e envolvendo valores de vários outros assessores que trabalhavam junto com ele. Porque a doença impediria, desde já, o esclarecimento dos fatos? Queiroz se queixou que está "sendo tratado como o pior bandido do mundo" e que há pessoas que duvidariam de sua doença. Disse ele: "Estou muito a fim de esclarecer tudo isso, mas não contava com essa doença. Nunca imaginei que tinha câncer".
A disposição em falar do próprio câncer (relatou sangramentos, exames, cirurgia, quimioterapia etc) poderia ser empregada em informações que a sociedade demanda do que, afinal, foi feito com o dinheiro arrecadado dos demais servidores. Pois a impressão que fica é que os valores que movimentava tinham finalidade política mesmo, tal como exigir parte dos salários para financiamento de campanha, prática ilícita, mas comum. Ou será que quando Queiroz nos diz que não pode falar agora "por causa do câncer" está falando por metáforas, se referindo ao "câncer" do sistema político brasileiro?
Psiquiatra
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