Uma lição que não esqueço eu aprendi num Natal, no Interior, quando achei uma brincadeira de mau gosto (zombando das crenças dos outros) e disse isso para o marido de uma prima, que me respondeu assim: "Eu sou uma pessoa simples e as minhas brincadeiras são simples". Quem sou eu, para julgar os outros? Mas é isso que fazemos todos os dias, suscetíveis a piadas banais. Claro que há zoações agressivas, o "bullying", que pode ser muito nocivo e perigoso a pessoas mais vulneráveis. Mas ninguém vive sem falar bobagens para desestressar, inclusive nas redes sociais, "viradas em memes", mania nacional do momento.
O humor pode ser irreverente, preconceituoso, fantasioso, pode ser dos mais diversos tipos. O ditado "se diz a verdade brincando" retrata que, através do humor, expressamos nossos valores. Pessoas que riem das mesmas coisas criam uma cumplicidade: "O chiste é o padre disfarçado que une os casais", já disse Jean Paul.
Freud analisou "o chiste e sua relação com o inconsciente" e distinguiu o chiste inocente do tendencioso, que possui uma tendência ou objetivo específico. Um exemplo é a piada do rei que andava pelas ruas do seu domínio quando encontrou um aldeão muito parecido com ele. O rei, impressionado com a semelhança, pergunta a este: "a sua mãe já esteve na corte?". Ao que o aldeão respondeu: "não senhor, mas meu pai sim".
A mais elegante forma de humor é o filosófico (definição do psicólogo Abraham Maslow), que não ofenderia as pessoas, como também a autoironia, que expressa capacidade de autocrítica, mas isso é bem mais raro. No típico senso de humor brasileiro, gozar das fraquezas dos outros é que é engraçado. É ironizando e sendo ironizados, com "memes e contramemes" nas redes sociais e brincadeiras na vida pessoal, que vamos ter de aprender a conviver com as diferenças.
Psiquiatra, autor do livro
Em busca da Alma do Brasil