As quedas consecutivas nos índices de desempenho da indústria brasileira, especialmente na de manufaturados, já não podem ser vistas apenas como um produto do custo Brasil e de todos os problemas de competitividade - já debatidos quase à exaustão. Precisamos, enquanto empresários, fazer a lição de casa: inovar para sobreviver. Em recente entrevista, o consultor de Inovação da Abicalçados, Alexandre Peteffi, trouxe dados preocupantes: a) desindustrialização brasileira, acelerada desde a década de 1980, quando a indústria chegou a responder por 20% do PIB, sendo que hoje esse índice é pouco mais do que 11%; b) a indústria brasileira é uma das menos inovadoras do mundo, sendo que, nesse contexto, a cadeia coureiro-calçadista responde apenas por 6% do total investido em inovação no âmbito da manufatura nacional.
O dado é ainda mais perturbador se comparado ao registrado em outros países, inclusive os em desenvolvimento. Quando se trata de automação no parque fabril, tema fundamental para a competitividade da indústria, o Brasil aparece na 39ª posição do mundo, com apenas 10 robôs para 10 mil empregados, dado que nos coloca abaixo de países como Argentina e México. A China é o maior exemplo de sucesso em inovação. Há duas décadas, o país asiático era outro. Investia apenas 0,6% do PIB em inovação, enquanto o Brasil investia 1% da receita bruta. Hoje, a China investe mais de 2% do PIB e tem 68 robôs a cada 10 mil trabalhadores. O Brasil investe míseros 0,6% do PIB no quesito, ou seja, conseguimos diminuir o investimento quando mais precisávamos dele. Resultado: a China, que no início dos anos 2000 era a 6ª economia do mundo, se encaminha para ser a principal economia mundial em breve. E o Brasil onde está? Como entidade representativa de um setor tão relevante para a economia nacional, presente com força em 10 estados brasileiros e gerando 300 mil empregos diretamente, não podemos nos furtar de instigar o empresário para esse tipo de investimento, para que, quando as condições econômicas para uma reação da demanda estiverem restabelecidas, voltemos a crescer com bases sólidas e sustentáveis.
Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados