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Da economia de ter para a economia do compartilhar

Cezar Taurion
CEO da Litteris Consulting

Estamos vivenciando os efeitos do aquecimento global em nosso planeta. Diante de nossos olhos, está a desfiguração do solo, o desmatamento das florestas, a poluição da água e do ar, a perda da biodiversidade e as mudanças climáticas. A situação é agravada pelo fato de que, nas economias modernas, a abundância de bens de consumo produzidos pelo sistema industrial é considerada símbolo de sucesso. O nível e o estilo de consumo se tornaram uma fonte de identidade cultural, aceitação e participação na vida social. Muitas vezes, este consumo se transforma em compulsão, levando ao fenômeno do consumismo, que é a expansão exacerbada da cultura do "ter". A qualidade de vida acaba de associando de forma intensa às conquistas materiais, levando a um círculo vicioso, em que se deseja mais e mais elevar o nível de consumo, mais e mais "ter". O resultado é que, pela exploração excessiva, vemos claros sinais de esgotamento dos recursos naturais, tanto dos não renováveis, como dos renováveis. À medida que nossa sociedade se transforma em uma sociedade tecnológica, vemos que a febre do consumo leva a outros desafios como o problema dos televisores, celulares e tablets de hoje se tornarem o lixo eletrônico de amanhã.
Este consumismo e suas consequências estão colocando em cheque nosso modelo econômico. Começamos a ver, ainda de forma incipiente, o início do processo de crescimento e amadurecimento de um novo modelo econômico, impulsionado pelas tecnologias digitais, que traz profundas transformações em seu bojo, que é a economia do compartilhar, do consumo compartilhado e colaborativo. Compartilhar é um hábito comum na espécie humana e agora, com a ajuda da tecnologia, ampliamos imensamente esta capacidade. Antes podíamos compartilhar apenas com pessoas próximas, que conhecíamos bem. Agora podemos compartilhar com desconhecidos, de outros países. Compartilhamos até nossas casas, pelo AirBnb. Em outros países, como nos Estados Unidos, compartilha-se o carro (Getaround, isto é, você aluga seu carro para outros) ou a vaga de estacionamento (Parking Panda). É um modelo diferente de nosso modelo econômico atual, de ter a propriedade. O compartilhar é a expressão natural do que realmente queremos. Afinal, queremos ter uma máquina de lavar ou queremos a roupa lavada?
O século XXI provavelmente será o século do consumo colaborativo, compartilhado, em contraponto ao hiperconsumismo do século XX. Novos valores, maior conscientização do mundo à nossa volta. Afinal, por enquanto, só temos esse!