As marcas mais lembradas e preferidas de
gestores e formadores de opinião do RS.

PROP�SITO - A for�a transformadora do por qu�?

Arthur Bender
Estrategista de Marcas, Empres�rio, Escritor e Palestrante

Por força de minha rotina de trabalho como estrategista de marcas, tenho uma oportunidade profissional ímpar na vida profissional. Viajo pelo Brasil vivendo os desafios de diferentes organizações nos mais distintos segmentos de mercado. Visito, discuto, observo e trabalho para empresas de diferentes portes. Daquelas com algumas poucas dezenas de colaboradores até outras com milhares; de indústrias de diferentes ramos ao varejo nervoso espalhado pelo Brasil. Das que lidam com commodities àquelas que vivem tentando desenhar o futuro. O que tenho observado é que existe um ponto muito comum em todas elas: um esforço enorme, cada vez maior e mais dispendioso na busca de engajamento das pessoas.
Hoje estamos muito mais preparados do que estávamos anos atrás, mas estranhamente as coisas ainda não funcionam como gostaríamos. Usamos modernas tecnologias de recrutamento, temos dinâmicas e muito mais processos internos. Temos novas tecnologias como people analytcs, passamos a fazer convenções "holiudianas" para motivar equipes, implantamos planos de PPR, bônus para os líderes e passamos a valorizar muito mais o RH.
Paradoxalmente, mesmo com tudo isso, está cada vez mais difícil alinhar a todos e fazer com que a "tropa marche unida, na mesma direção". Primeiro porque ficou politicamente incorreto chamar as pessoas que trabalham na empresa de trabalhadores. Segundo porque ficou terrivelmente inapropriado fazer associações entre colaboradores e tropas. Quanto mais usar expressões como "marchar unidos". Tudo isso está ligado a um passado que relacionava gestão à "disciplina militar". Um padrão de pensamento top down que tinha como máxima "quem pode manda e quem precisa obedece". Um mindset que hoje se mostra não só politicamente incorreto, mas também meio surrado e difícil de defender. Um padrão de pensamento que não funciona mais e muito menos mobiliza coisa alguma. Principalmente uma geração que nasceu pensando de forma horizontal, com a lógica oposta, muito distante dos mandos de cima para baixo ou do "obedece porque tem de obedecer e pronto".
Há bem pouco tempo li uma estatística que mostrava números impressionantes e relatava algo como 70% de "desânimo corporativo" entre colaboradores de todos os níveis dentro das organizações. Gente que trabalha onde trabalha porque precisa ou por absoluta falta de outra opção, mas que se pudesse não o faria. Pior, dentro desse universo de desapegados, um percentual de mais de 30% de detratores de crachá no peito. Ou seja, gente que produz e vende o que não compraria e que não acredita edetrata a própria empresa que paga o salário.
Com certeza, existem muitas razões para tal quadro. Existe uma sociedade do excesso que deixa tudo muito fragmentado; uma sociedade superlativa na qual tudo fica tão grandioso que a gente perde a noção real. Como existe uma sociedade e um mercado que grita tanto para ser ouvido que ninguém escuta mais ninguém. Mas acima de todas essas forças está a ideia de que somos seres que precisam de causas para seguir. A verdade é que com todo o conhecimento e a tecnologia de 2015, ainda precisamos de mitos para esclarecer nossas dores, de heróis para nos fazer sonhar e de referências para encontrar o melhor caminho. Continuamos precisando muito viver em torno de líderes, de nós mesmos em torno de ideias ou de causas que nos sejam comuns e caras. O problema é que hoje, não temos mais heróis, nem temos mais confiança nos governos e na maioria das instituições. Estamos de frente com o vácuo em meio ao caos. Carecemos de guias para sobreviver e de ajuda para fazer escolhas que não são mais entre o certo e o errado, mas na maioria das vezes, na fronteira tênue entre o legal, o moral e o ético.
E é aí que existe um enorme vazio para as marcas ocuparem. E é justamente aí que a ideia de um propósito possa ser revolucionária para marcas de empresas e organizações. Um propósito que pode ser descoberto simplesmente exercitando a ideia de encontrar as respostas para um "por quê"? Um propósito que possa dar sentido e significado às marcas e que possa ser transformador da vida não só das organizações, mas da vida das pessoas que fazem todo dia essa mesma organização.
Um "por quê?" que compartilhado possa criar um significado maior que os produtos ou os serviços que produzimos e entregamos. Um "por quê?" que seja legítimo, que me toque e que me faça me apaixonar pela ideia de levantar de manhã e continuar a fazer o que faço. Um "por quê?" que nos faça maior do que somos e que justifique os desafios da caminhada.
E minha conclusão é que boa parte das empresas sabe muito bem "aonde vai", pois tem uma visão muito clara para perseguir, e as que fazem sucesso, certamente é porque sabem sua missão, têm um foco e encontraram "um como" baseado em valores e em uma estratégia eficaz. Tudo certo. Mas a maioria - normalmente as que mais se ressentem da falta de engajamento de seus colaboradores - esqueceu de fazer a pergunta mais importante: o "por quê"? Por que fazemos o que fazemos? Pense nisso. Porque a resposta pode ser transformadora para a sua empresa e mesmo para a sua própria liderança.