Uma pesquisa realizada por aluna do mestrado em Virologia da Universidade Feevale, Débora Couto da Rosa, coletou, do banco de dados interno da instituição, as informações clínicas dos pacientes sintomáticos com suspeita de Covid-19. O objetivo é produzir um estudo que analise a possível associação entre a detecção do vírus e os sintomas apresentados nas regiões de abrangência das coletas, informações essas que podem auxiliar na triagem e no diagnóstico clínico da doença.
Os dados preliminares analisados contam com um total de 4.556 pacientes, sendo estes divididos por período de pandemia. O primeiro período, denominado "pré-pico", abrange as amostras analisadas de março a junho de 2020, totalizando 3.942 pacientes, sendo 1.034 testados positivos para o novo coronavírus e 2.908 negativos. Já o segundo período, "pico de inverno", refere-se ao mês de julho de 2020, do qual 653 pacientes foram incluídos nessa análise preliminar, sendo 430 pacientes positivos e 223 negativos para Covid-19.
Débora explica que, apesar de a febre ser o sintoma mais frequente na maioria dos estudos sobre Covid-19, não foi possível estabelecer associação com a doença. Devido às frequências de sintomas quase iguais em pacientes com e sem detecção do vírus, não houve associação significativa. "Ainda assim, quando tentamos associar múltiplos sintomas à presença do vírus, a frequência desses permanecem semelhantes aos pacientes negativos", esclarece.
Esses resultados preliminares indicam que não há sintomas específicos associados a essa nova doença viral na região estudada, e que a presença de qualquer manifestação clínica não é um indicativo de positividade ou negatividade para a doença em pacientes sintomáticos, tendo em vista que os sintomas comumente observados também podem ser causados por outros vírus respiratórios, como o Influenza (vírus causador da gripe). "Além disso, de acordo com estudos internacionais, a porcentagem da população infectada pelo vírus que não apresenta sintomas pode chegar até 80%, e como podemos observar nos resultados do estudo, dentre a população classificada como sintomática, as frequências dos sintomas são extremamente variadas", diz a mestranda.
A pesquisa indica, assim, que a ausência de associação com os sintomas acarreta a impossibilidade do diagnóstico clínico da doença, ou seja, por meio apenas da avaliação sintomática. "Os resultados, embora preliminares, revelam a necessidade de que o diagnóstico seja realizado por testagem, visto a inespecificidade dos sintomas. Além disso, é fundamental a manutenção das medidas de prevenção, assim como a realização da triagem de contatos com casos confirmados", lembra a professora Juliane Fleck, que coordenou o estudo.