O consumo deliberado de substâncias químicas, fruto, muitas vezes, da automedicação, faz com que o organismo não seja capaz de absorver a totalidade dos compostos. E o que acontece com o que sobra? É descartado na natureza por meio da urina ou das fezes. Por isso, um estudo feito na Universidade de Passo Fundo (UPF) busca a biorremediação de poluentes emergentes via metabolismo.
Com pesquisas voltadas para a área do meio ambiente, Alan Rempel explica que a proposta do trabalho é apresentar uma alternativa de tratamento de águas residuárias contaminadas com fármacos (remédios). Segundo ele, a justificativa está no fato de que as estações de tratamento convencionais não foram projetas para realizar o tratamento destes contaminantes, já que elas são consideradas fontes relativamente novas de contaminação.
Entre os novos poluentes emergentes encontrados pela pesquisa estão a cafeína, o ácido acetil salicílico (AAS), o diazepan, o paracetamol e fluoxetina. De acordo com o pesquisador, a não retirada destes poluentes implica a contaminação de mananciais, trazendo problemas a biota aquática (conjunto de todos seres vivos de um determinado ambiente ou de um determinado período). Além disso, muitos destes mananciais, são utilizados para a captação de água para abastecimento humano.
Ele relata que as estações de tratamento de água por sua vez, quando foram pensadas, não foram projetadas com estratégias para remoção destes fármacos, ou contam com uma remoção de baixa eficiência, o que torna esta situação em um problema de saúde pública. "Estamos pesquisando uma nova alternativa de tratamento destes poluentes, através das microalgas. As microalgas podem retirar estes contaminantes destes efluentes, e realizar transformações em compostos menos tóxicos, reduzindo assim a sua toxicidade e por consequência reduzindo seus efeitos nos organismos aquáticos e nos humanos", explica.
Após o crescimento da microalga nos efluentes contaminados com estes fármacos, e depois de aplicar a remediação, Rempel destaca que a biomassa da microalga ainda pode ser utilizada para a produção de bioetanol, agregando sustentabilidade ao processo. "Além de retirarmos estes contaminantes podemos ainda realizar a produção de um biocombustível", pontua.
A professora Luciane Colla explica que nos efluentes domésticos podem ser encontradas pequenas concentrações como hormônios, antinflamatórios, pesticidas e antibióticos. "Esses contaminantes atrapalham o processo de tratamento de efluentes, visto que eles não são atingidos pelos processos convencionais, por isso a nossa ideia é utilizar aqueles já tratados e verificar os níveis de contaminação, realizando, então, o pós-tratamento utilizando microalgas", observa.