Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) publicaram um estudo no periódico britânico Biology Letters. Nele, eles apresentam uma solução evolutiva para um dos maiores desafios da paleontologia de vertebrados. A pesquisa propõe um rearranjo na base da árvore evolutiva dos ornitísquios, grupo que incluí os dinossauros com chifres e armaduras, como o Triceratops e o Ankylosaurus.
A árvore evolutiva dos dinossauros é composta por dois grupos principais, chamados de Saurischia e Ornithischia. Ambos tiveram origem durante o Período Triássico (entre 252 e 201 milhões de anos atrás). A origem dos dinossauros saurísquios é bastante explorada, uma vez que são conhecidos diversos fósseis das formas mais primitivas deste grupo.
Por outro lado, a origem dos dinossauros ornitísquios é um grande mistério, pois não há registros seguros de ornitísquios em rochas do Período Triássico, enquanto que em rochas dos Períodos Jurássico e Cretáceo o grupo é muito bem representado. Sabe-se que os ornitísquios surgiram durante o Triássico por conta de "linhagens fantasmas", as quais são reconstruídas através de análises filogenéticas (um tipo de reconstrução da árvore "genealógica" dos dinossauros). Em virtude disso, até o momento não se sabia como foi a origem deste grupo de dinossauros e nem como se pareciam as suas formas mais primitivas.
O novo estudo reduz a "linhagem fantasma" dos dinossauros ornitísquios preenchendo-a com um grupo de animais que eram considerados como "parentes próximos" dos dinossauros, mas não como dinossauros verdadeiros. Esses animais são chamados de silessaurídeos. Desta forma, a espécie passa a ser tratada como dinossauro e ainda são propostos como os "ancestrais" dos ornitísquios. De fato, os silessaurídeos são conhecidos em rochas de vários lugares do mundo, incluindo o Brasil, onde o grupo é representado pelo Sacisaurus agudoensis, um pequeno animal que viveu a cerca de 225 milhões de anos atrás e foi encontrado em Agudo, no Rio Grande do Sul.
Para chegar a esta nova hipótese, o paleontólogo da UFSM Rodrigo, Temp Müller, e o aluno do curso de Ciências Biológicas, Maurício Silva Garcia, combinaram em uma única matriz de dados as informações anatômicas de dezenas de novos esqueletos fósseis descobertos no mundo todo ao longo dos últimos anos. Ao unir os dados com o que se já conhecia, foi possível chegar a esta hipótese alternativa através de análises computacionais que processam a enorme quantia de dados anatômicos e recuperam as árvores evolutivas mais prováveis. Antes deste estudo, todas essas novas informações sobre as espécies de répteis ainda não haviam sido combinadas em um único conjunto de dados abrangente.