O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, ao anunciar
um novo decreto para a cidade com restrições a alguns serviços a partir desta terça-feira, chamou a atenção de quatro municípios da Região Metropolitana. Ao citar Alvorada, Guaíba, Novo Hamburgo e Viamão em sua fala, transmitida pelas redes sociais no fim de semana, recomendou que os prefeitos tomassem medidas mais duras em relação à flexibilização de serviços, do comércio e das atividades econômicas em geral.
De acordo com dados fornecidos pela secretaria municipal de Saúde de Porto Alegre ao
Jornal Cidades, são 107 pacientes internados em leitos de UTI Covid-19 no município, entre aqueles que estão em leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) e particulares - 76 confirmados e 31 suspeitos. Nos leitos de SUS, a maioria das internações é para pacientes da Capital (41%). Alvorada é a segunda cidade, com 7,5% das ocupações, seguida por Guaíba e Novo Hamburgo, com 6% cada. Dos 530 leitos de UTI Adulto em Porto Alegre, 319 (ou 60,18%) estão ocupados. Esse número engloba outras enfermidades além da Covid-19. O governador, Eduardo Leite, chegou a mencionar a escalada no uso dos leitos na cidade,
com o risco de colapso nas próximas semanas.
Os prefeitos das quatro cidades reagiram ao pedido do chefe do Executivo da Capital. Em Novo Hamburgo, Fátima Daudt afirmou que a observação de Marchezan "não é justa". Segundo ela, o município tem leitos de UTI para tratamento e também recebe pessoas de outras cidades, sobretudo do Vale do Sinos. "Fomos a primeira cidade do Estado a se mobilizar contra o coronavírus, lá em janeiro. Em março, estivemos novamente entre as primeiras cidades do Estado a implantar seu Centro de Triagem ao coronavírus. A fala (de Marchezan), no caso de Novo Hamburgo, é sem sentido", completou.
Os dados, no entanto, apontam uma saturação dos leitos na cidade. Atualmente, todos os 10 leitos de UTI no Hospital Municipal de Novo Hamburgo estão ocupados, sendo dois por Covid-19 e o restante por outras patologias. O hospital ainda conta com 10 leitos semelhantes à UTI, todos ocupados, mas nenhum por Covid-19. O número de internações hospitalares, de acordo com a prefeita, tem crescido há, pelo menos, duas semanas, mais acentuadamente da semana passada para cá. De uma média entre 10 e 15 pessoas internadas clinicamente, atualmente, o hospital vem mantendo cerca de 20 internações por suspeita ou casos confirmados de Covid-19.
Já o prefeito de Viamão, Valdir Jorge Elias, o Russinho, entende que os pacientes citados por Marchezan se tratam "de convênios, e não da rede pública". Para ele, "é compreensível" que o prefeito porto-alegrense queira proteger a população, mas entende que, devido à situação atípica da pandemia, é preciso ter cuidado para não tomar "decisões precipitadas". No dia 5 de junho, a prefeitura inaugurou 10 leitos de UTI no Hospital de Cardiologia de Viamão para atender pacientes com Covid-19. Na mais recente atualização, a secretaria de Saúde do município confirmou que há nove pacientes internados em Porto Alegre com a doença, enquanto um está em tratamento na cidade.
No caso de Guaíba, o prefeito José Sperotto disse entender a preocupação da Capital com o avanço nas internações por Covid-19 e apresentou ações realizadas na cidade para tentar coibir aglomerações, como orientação através de carros de som e circulação de fiscais da prefeitura pelos bairros. Para os casos confirmados da doença, os pacientes são estabilizados no Pronto Atendimento de Guaíba, que possui sete respiradores, e, em caso de agravamento, são encaminhados à Capital, que, segundo o prefeito, "recebe recursos do Sistema Único de Saúde para prestar esses atendimentos aos cidadãos guaibenses". Hoje, são cinco pacientes em tratamento em Porto Alegre. A prefeitura também pleiteia, junto ao Estado,
a instalação de 10 leitos de UTI no município para amenizar o impacto no sistema de saúde de Porto Alegre.
Em outra cidade que é limítrofe da capital gaúcha, Alvorada, o prefeito José Arno Appolo do Amaral preferiu não comentar o pedido do seu colega. Reiterou que, dos 190 casos confirmados na cidade, 28 pessoas estão hospitalizadas, sendo três no hospital de Alvorada e 25 na Região Metropolitana. Outros 96 pacientes estão em isolamento domiciliar. Quatro óbitos foram registrados na cidade. Nesta semana, o município também tomou medidas para reduzir o horário de funcionamento do comércio, dos bares e dos restaurantes, com o intuito de diminuir a circulação de pessoas.