Com extensão de 264 quilômetros, a bacia hidrográfica do Caí, localizada na região nordeste do Rio Grande do Sul, abrange 42 municípios com grande concentração populacional. Dados de 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o Rio Caí é o oitavo rio mais poluído do País. Como a preservação ambiental é essencial para o bem-estar da população e está relacionada aos ecossistemas, avaliar a qualidade dos rios se torna essencial para orientar as políticas de proteção.
Uma pesquisa do Programa de Pós-graduação em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale busca monitorar e avaliar a qualidade da água da bacia. O estudo, desenvolvido pelo doutorando Wyllame Carlos Gondim Fernandes, sob a orientação do professor Marco Antonio Siqueira Rodrigues, tem o intuito de apresentar o cenário da qualidade ambiental do rio Caí. A partir de novembro de 2017 e ao longo de 24 meses, 17 pontos são monitorados ao longo do curso d'água, com coletas mensais. As amostras são classificadas de acordo com as condições e padrões de lançamento de efluentes na água. Os parâmetros analisados compreendem os físico-químicos, os metais tóxicos e os poluentes emergentes.
O estudo está na fase de análise dos dados físico-químicos, o que corresponde a indicadores das concentrações de metais tóxicos como chumbo, cobre, cromo total, mercúrio e indicadores de poluição como coliformes fecais, entre outros. Wyllame se surpreendeu com os resultados dessa primeira fase de investigação. "O rio Caí não está tão poluído como foi divulgado há uns anos e como se pensava", afirma. A conclusão parte da análise de parâmetros como amônia, cloretos, coliformes totais, dureza total, ferro total, coliformes fecais e turbidez. De acordo com os dados obtidos, esses indicadores apresentam resultados inferiores aos limites exigidos pelos órgãos estaduais e federais, que determina parâmetros adicionais de agrotóxicos ao padrão de potabilidade para substâncias químicas para a água de consumo humano.
Porém, já se encontram poluentes tóxicos, como mercúrio, próximo à nascente do rio, em São Francisco de Paula. De acordo com Fernandes, esse é um indicador de contaminação que pode ser associado ao uso de agrotóxicos. Isso pode significar que os agrotóxicos utilizados nas plantações possam estar se infiltrando no solo e contaminando o rio.
As análises são realizadas em laborarório. O espaço conta com equipamentos de ponta no tratamento de água utilizando tecnologias limpas, como a osmose, eletrodiálise, nanofiltração e membrana destilação. O laboratório possui, ainda, sistemas avançados de cromatografia acoplada a espectrômetro de massa, o que permite uma investigação de diversos compostos orgânicos persistentes nas amostras de água (medicamentos, pesticidas, etc). Também é possível comparar a concentração de compostos nas amostras com bioindicadores, o que permite relacioná-los à genotoxidade da água.
Com 32 anos, Fernandes é de Tabuleiro do Norte, região leste do Ceará. Após o término do curso, procurou uma universidade pelo Brasil que tivesse um programa de pós-graduação na área hídrica e encontrou a Feevale. "A crise hídrica e a falta de tratamento de esgoto não é uma particularidade do nordeste, mas de todo o país. O sonho de todo o pesquisador é conseguir colocar seu trabalho em prática", destaca.