"Eu não era dona da minha vida". Essa frase resume os 14 anos em que Clara (nome fictício), 35 anos, esteve casada com o ex-marido. O relacionamento foi marcado por agressões físicas e tortura psicológica. Além do medo de denunciar, a preocupação de não conseguir criar os seis filhos, devido à dependência financeira, era o que a mantinha na relação.
Foi a história de Clara e de tantas outras mulheres que necessitam de independência econômica para não voltar ao convívio do agressor que fez a prefeitura de Canoas, em parceria com o Poder Judiciário e com a iniciativa privada, desenvolver o programa Por Mim, cujo objetivo é promover a autonomia financeira de mulheres que sofrem violência doméstica, inserindo-as no mercado de trabalho através de vagas disponibilizadas pelas empresas parceiras.
Para o prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato, visar a empregabilidade é fundamental para mudar a realidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social. "Com programas e ações como o Por Mim, acabamos tendo um retorno da iniciativa privada, que vai viabilizar as vagas de emprego, ou seja, é um ciclo que se completa", salienta o prefeito.
A vice-prefeita de Canoas e uma das idealizadoras do Por Mim, Gisele Uequed, destaca que o projeto foi elaborado em conjunto com atores da sociedade, para tornar a iniciativa uma política pública de longo prazo. "Oportunizar entrevistas de emprego a essas mulheres é atacar uma das principais causas da continuidade da violência doméstica e ainda possibilitar o início de um ciclo de empoderamento delas, com a reapropriação de suas vidas. O programa também visará estimular a denúncia contra os agressores", explica Gisele Uequed.
Parceira do projeto, a juíza da Vara do Juizado da Violência Doméstica de Canoas, Fabiana Pagel da Silva, destaca que é necessário considerar que não são apenas fatores culturais que mantêm a mulher no ciclo da violência. "Há aspectos financeiros, psicológicos e familiares. O Por Mim atenderá a este anseio de dar condições financeiras de escolha às mulheres, para que, então, dona de suas possibilidades econômicas, elas possam estar livres para escolher e trilhar seu futuro", contextualizou.
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