O poeta gaúcho Mário Barbará deu visibilidade ao que chamou de "pingentes da capital". Em sua obra mais famosa, "Desgarrados", Barbará descreveu a invisibilidade das pessoas em situação de rua de Porto Alegre. Em Venâncio Aires, a situação não é diferente. Muitas pessoas com revés na vida caminham "desgarrados" pelas áreas urbanas e algumas buscam ter algo para se "agarrar" e, assim, recomeçar.
É o caso do Clédio Rogério Posselt, que, aos 48 anos, encontrou no albergue municipal o impulso que precisava para buscar uma nova vida. Abrigado na instituição desde janeiro, o mecânico de manutenção quer se restabelecer e nunca mais ter que voltar a morar pelas ruas da Capital do Chimarrão.
Venâncio-airense de Linha Cachoeira Baixa, Posselt encontrou no conforto dos coordenadores do albergue, Darcy dos Santos e Sulverina Rodrigues dos Santos, o apoio para retomar os estudos. Aluno na escola estadual Monte das Tabocas, ele faz o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) Ensino Médio e já projeta uma faculdade. "Apesar de ter profissão, o estudo é muito importante, porque, sem o Ensino Médio, as empresas não empregam. Quero estudar para conseguir um novo emprego e, quem sabe, fazer uma faculdade."
Os cadernos e os estudos são analisados por Sulverina, que garante que o estudante está aplicado e focado em finalizar o EJA, que vai até o ano que vem. "Dos mais de 30 alunos que começaram na minha turma, restam, agora, pouco mais de 15, mas eu vou continuar a estudar para conquistar um emprego e retomar a minha vida", observou Posselt.
Além de se agarrar na oportunidade do estudo, Posselt quer recomeçar a vida conquistando não só um novo emprego, mas também uma casa e a convivência com a família e as filhas, mesmo que a distância, já que uma delas mora na Austrália. "Ela foi estudar inglês, quer ser aeromoça. Preciso me modernizar para, pelo menos, ter contato com ela via internet", conta orgulhoso.
Inaugurado em agosto de 2017, o local funciona na rua Júlio de Castilhos. Mais de 200 pessoas já passaram pelo albergue, conforme o secretário de Desenvolvimento Social Arnildo Câmara. Para acessar o serviço, que é oferecido pelo município, é preciso seguir as regras da casa, como chegar antes das 20h e não faltar nenhuma noite. No local, os albergados têm à disposição itens de higiene pessoal, comida, cama e roupas limpas.
O gestor afirma que, em quase dois anos de funcionamento, muitos já foram os passantes que se reabilitaram com ajuda de toda a rede, como o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e as unidades de saúde. "Auxiliamos no encaminhamento de documentos, na reabilitação e no processo de reaproximação com as famílias e a busca por uma oportunidade de emprego. Sabemos que é difícil para eles, mas é importante que eles recebam impulso para se levantarem e mudarem sua situação, e nós somos este apoio."