Listada no livro dos recordes italiano como a videira mais antiga do mundo, uma parte da árvore de 500 anos agora está em Bento Gonçalves. Duas mudas vindas da Eslovênia foram plantadas no Parque da Fenavinho e no Ecomuseu da Cultura do Vinho. Realizado na última quarta-feira, o ato marcou a abertura da feira Wine South America, que se encerrou no último sábado, reunindo 250 expositores.

 "Estamos honrados e orgulhosos de representar o Brasil ao abrigar uma relíquia cultural. Isso significa a consolidação do País como membro da comunidade vitivinícola internacional", ressaltou o prefeito Guilherme Pasin. A cerimônia contou com a participação da conselheira econômica da Embaixada da Eslovênia no Brasil, Suzana Pendic, e do embaixador da Itália, Antonio Bernardini.

Localizada no Centro Histórico de Lent, às margens do maior afluente do Danúbio, a videira original é sustentada na parede externa de uma casa do século 16. Tanto a residência histórica como a vinha são Patrimônio da Humanidade da Unesco. Apesar da idade, a árvore ainda produz cachos de uva. As dezenas de garrafas de vinho produzidas são oferecidas pelo prefeito da cidade de Maribor a importantes visitantes.

A videira chegou ao Brasil por intermédio da amizade de Rinaldo Dal Pizzol, diretor da Dal Pizzol Vinhos Finos, com Luigi Soini, enólogo italiano e mentor intelectual do Vinhedo do Mundo e da coleção privada de 400 videiras do Ecomuseu da Cultura do Vinho. Soini tem uma plantação similar na cidade de Cormóns, Friuli, na Itália, com quase mil variedades de uvas de onde, a partir de um blend com algumas delas, produz o Vinho da Paz.

As tratativas de doação do ramo de videira da cepa Modra Kavcina começaram ainda em 2015. "Precisamos ficar na fila para sermos contemplados", lembrou Dal Pizzol. A doação da videira é uma concessão oficial, de forma diplomática a destinatários internacionais. De Maribor, a videira foi levada a Cormóns e, de lá transportada ao Brasil por Alberto Piz, diretor da Milanez & Milaneze, promotora da Wine South America.

Para Dal Pizzol, o ato do plantio transcende o enriquecimento cultural de seu acervo vinífero. "Isso simboliza a solidariedade, a fraternidade e a paz entre os povos. E mesmo que a Eslovênia seja um tanto desconhecida para nós, a uva, o vinho, faz essa ligação entre os povos, de modo que a distância entre Maribor e Bento Gonçalves seja muito próxima. Que essa aproximação traga frutos não só uvas, mas frutos culturais, sociais e, quem sabe, econômicos", disse Dal Pizzol.

No Brasil, a muda foi submetida a procedimentos de enxertia de mesa e vegetação pelo viveirista Edgar Sinigaglia Junior, que estendeu a vida da videira de Maribor. Um outro exemplar da muda foi plantado na Fundaparque, onde ocorre a Wine South America, em uma forma de demonstrar a importância do cultivo para os habitantes de Bento Gonçalves. "O vinho não é só um produto agroalimentar, é um produto cultural carregado de emoções e que faz parte da história do homem desde milênios", comentou Dal Pizzol.

A cada ano, algumas dezenas de garrafas são produzidos a partir da vinha de Maribor, que produz cachos com formato piramidal e bagas redondas de cor azulada. O resultado é um vinho único e peculiar, de cor vermelha rubi, aroma violeta e um buquê complexo de flores do campo. O vinho extraído da variedade Modra Kavcina é presenteado pela municipalidade de Maribor a autoridades que visitam a cidade eslovena.