As principais eleições presidenciais da história recente de Honduras podem ter a primeira mulher como vencedora. Xiomara Castro de Zelaya (Libertad y Refundación), 62 anos, de esquerda, soma 53,6% dos votos, com cerca de 51,1% da votação deste domingo (28) apurada. Líder da oposição hondurenha, ela é esposa do ex-presidente Manuel Zelaya (2006-2009), deposto por um golpe de Estado.
O governista Nasry Asfura está em segundo lugar na disputa, com 33,87% dos votos, e o empresário Yani Rosenthal vem em terceiro, com pouco mais de 9%. Como não há segundo turno no país centro-americano, aquele que conseguir a maioria dos votos no final da apuração comandará Honduras até janeiro de 2026.
Ainda que apenas metade dos votos tenha sido apurada, a principal candidata já reivindicou vitória e promoveu eventos com os apoiadores na capital Tegucigalpa. Xiomara realizou um discuso no domingo à noite em que afirmou ter ganhado e prometeu promover um governo de reconciliação. "Estendo a mão a meus opositores porque não tenho inimigos, vou convocar o diálogo com todos os setores de Honduras."
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, aliado de Xiomara e Manuel Zelaya, fez coro às palavras de vitória. O venezuelano felicitou a candidata em uma rede social e disse que, após 12 anos de golpe de Estado, "o povo retomou o caminho da esperança dando uma histórica vitória à presidente eleita, Xiomara".
O presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Kelvin Aguirre, criticou a postura e disse que nenhum candidato pode ser declarar vencedor "até que a última ata seja processada". Segundo o órgão, o pleito contou com a participação de 68% dos mais de 5,1 milhões habilitados para votar - o país tem pouco mais de 9 milhões de habitantes.
Até o momento, o CNE não divulgou resultados preliminares da eleição de 128 deputados para o Congresso -se o Partido Nacional, governista, mantiver o controle do Legislativo, Xiomara teria dificuldade para assegurar a governabilidade. Também foram escolhidos 298 prefeitos.
Além de enfrentar problemas domésticos, como denúncias recorrentes de corrupção nos postos de poder e a presença do narcotráfico, o próximo presidente de Honduras terá a missão de lidar com a pobreza crônica -pesquisas sugerem que mais de 50% da população hondurenha vive abaixo da linha da pobreza.
Pesa também a responsabilidade de fomentar oportunidades em território nacional, em especial para a população mais jovem, que tem emigrado em massa. A taxa de desemprego subiu mais de 5 pontos percentuais em 2020, chegando a 10,9%, em grande parte devido à pandemia do coronavírus que matou 10,4 mil pessoas no país.
Durante o discurso de domingo, Xiomara voltou a afirmar que tem o compromisso de "garantir aos jovens que aqui em sua terra natal eles encontrarão o que precisam para gerar oportunidades e bem-estar para sua família". Um dos principais destinos da migração partindo de Honduras que, ao lado da Guatemala e de El Salvador compõe o chamado Triângulo do Norte, é os Estados Unidos.
Hondurenhos são a segunda nacionalidade que mais tenta entrar de forma ilegal nos EUA
Hondurenhos estão atrás apenas dos mexicanos como principal nacionalidade que tenta entrar de maneira ilegal na fronteira sul norte-americana. Pelo menos 309 mil deles foram detidos por agentes na fronteira dos EUA com o México durante o ano fiscal de 2021, quando 1,7 milhão foram detidos na região, número recorde.
Por essa razão, a governabilidade que o futuro presidente de Honduras conseguirá assegurar também tem sido ponto de preocupação de Washington. Um alto funcionário do Departamento de Estado norte-americano disse a repórteres, na última semana, que o resultado do pleito "é um momento importante não apenas para os hondurenhos, mas também para a América Central e todo o hemisfério", segundo relatos do jornal The Washington Post.
Xiomara também consolidou seu favoritismo na reta final da campanha com uma agenda que inclui a legalização do aborto em casos de estupro - hoje o procedimento é proibido no país em quaisquer casos - e do casamento homossexual.
O eleito para comandar Honduras também terá de lidar com as altas cifras de assassinatos de ativistas ambientais no país que, historicamente, lidera o ranking per capita mundial de líderes sociais assassinatos. O nome mais conhecido é o de Berta Cáceres, vencedora do Prêmio Ambiental Goldma morta em 2016 em meio a uma disputa com uma hidrelétrica. Em 2020, 17 ativistas foram assassinados no país, de acordo com monitoramento da ONG Global Witness.