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Internacional

- Publicada em 23 de Setembro de 2021 às 19:05

Enviado dos EUA ao Haiti renuncia com críticas a ações 'desumanas' de Biden

'Minhas recomendações foram ignoradas e rejeitadas', disse Foote na carta para Blinken

'Minhas recomendações foram ignoradas e rejeitadas', disse Foote na carta para Blinken


Drew Angerer/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP/JC
O enviado especial dos Estados Unidos para o Haiti, Daniel Foote, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (22) alegando que não quer ser associado às decisões do governo de Joe Biden de deportar milhares de migrantes haitianos detidos na fronteira norte-americana.
O enviado especial dos Estados Unidos para o Haiti, Daniel Foote, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (22) alegando que não quer ser associado às decisões do governo de Joe Biden de deportar milhares de migrantes haitianos detidos na fronteira norte-americana.
Em uma carta enviada ao secretário de Estado Antony Blinken, Foote descreveu a conduta do governo norte-americano diante da crise migratória como "desumana" e "contraproducente" devido ao agravamento da violência e do cenário de insegurança no país caribenho. "Nossa abordagem política para o Haiti continua profundamente falha, e minhas recomendações foram ignoradas e rejeitadas", disse Foote na carta para Blinken.
Diplomata de carreira e enviado ao Haiti em julho deste ano, Foote afirmou que a situação no país caribenho é tão ruim que autoridades norte-americanas ficam confinadas para se manterem seguras. Ele diz que o "estado colapsado" não tem condições de aguentar a chegada dos migrantes deportados.
O enviado especial também critica a decisão de Washington de apoiar o atual primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, que assumiu o comando do país após o assassinato do presidente Jovenel Moïse - crime no qual o próprio Henry é suspeito de envolvimento.
Para Foote, os EUA não aprenderam com os próprios erros cometidos em outras "intervenções políticas internacionais no Haiti". "A arrogância que nos faz acreditar que devemos escolher o vencedor - mais uma vez - é impressionante", escreve Foote.
A cidade texana de Del Rio está recebendo um fluxo maciço de migração, com milhares de haitianos abrigados em um acampamento improvisado sob a ponte que liga os EUA ao município mexicano de Ciudad Acuña. No último fim de semana, o local chegou a atingir o pico de 14 mil pessoas, segundo o Acnur, a agência da ONU para refugiados. Na terça (21), grupos no lado norte-americano do rio ocuparam uma área de floresta, e algumas famílias construíram barracas improvisadas com galhos e folhas. Os relatos são de que a comida é escassa e que não há banheiros suficientes para todos.
Do lado mexicano, o acampamento também tem crescido, e os migrantes têm recebido assistência de grupos como Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras e de moradores de Ciudad Acuña. No domingo (19) e na segunda-feira (20), centenas desses migrantes foram expulsos em três voos para Porto Príncipe. Na terça, estavam programados mais quatro voos e, para os próximos dias, há a expectativa de até sete voos diários com destino à capital haitiana e a Cap-Haitien, a segunda maior cidade do país.
Nesta quinta-feira (23), em meio ao agravamento da crise, o governo Biden anunciou a abertura de uma licitação para reativar um centro de detenção de migrantes na base naval dos EUA na Baía de Guantánamo, em Cuba.
No início desta semana, o premiê haitiano falou por telefone com Blinken sobre o retorno dos migrantes. Segundo o porta-voz do departamento norte-americano, Ned Price, os dois "discutiram os perigos da migração irregular, que coloca indivíduos sob grande risco e frequentemente faz com que migrantes e suas famílias adquiram dívidas paralisantes".

Defensores da migração e até democratas criticam política do governo Biden

O alto fluxo de migração - mais de 1,5 milhão cruzaram a fronteira neste ano fiscal - impõe desafios políticos e humanitários à gestão de Joe Biden. Uma expulsão em massa de haitianos está gerando fortes reações de defensores de migrantes, que dizem ser desumano determinar o retorno a um país em condições tão difíceis. Recentemente, o Haiti passou por uma série de desastres naturais, ocorridos após o assassinato de Moïse, o que aprofundou a instabilidade política na região.
Filippo Grandi, chefe do Acnur, declarou que as expulsões podem violar as leis internacionais sobre refugiados. Políticos republicanos, de olho nas eleições de meio de mandato em 2022, quando esperam retomar o controle do Congresso, foram ágeis em atribuir a responsabilidade pela crise no campo improvisado no Texas à pressão dos democratas para afrouxar algumas restrições à migração impostas durante o governo de Donald Trump.
Mesmo membros do Partido Democrata fizeram críticas à gestão da crise. Chuck Schumer, líder da maioria democrata no Senado, disse que a expulsão de imigrantes para o Haiti "desafia o bom senso" e expressou indignação com as táticas usadas pelos agentes de fronteira para controlar as multidões - no início da semana, oficiais montados a cavalo foram flagrados usando rédeas para ameaçar migrantes haitianos próximo à fronteira.
A vice-presidente Kamala Harris descreveu a situação como complexa e disse que os EUA precisam "fazer muito mais" para atender às necessidades básicas da população do Haiti. "As pessoas querem ficar em casa, não querem sair, mas vão embora quando não podem satisfazer suas necessidades básicas."
Em meio a esse cenário, uma das hipóteses aventadas pelos EUA é pedir auxílio para países como Brasil e Chile para receber parte dos migrantes haitianos. O tema foi tratado em reunião entre Blinken e o chanceler brasileiro, Carlos França, após a Assembleia-Geral da ONU.
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