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Internacional

- Publicada em 09 de Setembro de 2021 às 19:39

Taleban bane protestos e permite saída de estrangeiros do Afeganistão

Fotógrafos Nematullah  Naqdi (e) e Taqi Daryabi foram espancados pelo Taleban

Fotógrafos Nematullah Naqdi (e) e Taqi Daryabi foram espancados pelo Taleban


Wakil KOHSAR/AFP/JC
Em mais um dia de morde-e-assopra desde que reassumiu o poder no Afeganistão, o Taleban concordou em liberar a saída de estrangeiros em voos fretados partindo de Cabul. Ao mesmo tempo, colocou em prática seu primeiro decreto, banindo manifestações pelo país.
Em mais um dia de morde-e-assopra desde que reassumiu o poder no Afeganistão, o Taleban concordou em liberar a saída de estrangeiros em voos fretados partindo de Cabul. Ao mesmo tempo, colocou em prática seu primeiro decreto, banindo manifestações pelo país.
Há ainda cerca de 200 norte-americanos e outros estrangeiros querendo deixar o país, que ficaram para trás durante a caótica retirada final comandada por Washington, de 14 a 30 de agosto. A operação retirou cerca de 124 mil pessoas, a maioria composta de afegãos que trabalharam para forças ocidentais nos 20 anos de ocupação do país asiático.
Os novos voos, que começaram nesta quinta-feira (9), serão os primeiros para fora do país após o aeroporto ter sido reparado por uma força-tarefa do Qatar. A última decolagem internacional havia sido a de um C-17 dos EUA, com os militares e diplomatas a deixar o Afeganistão, no dia 30.
A nova retirada foi negociada, segundo agências de notícia, pelo antigo enviado norte-americano ao Afeganistão, Zalmay Khalilzad. Agora, apesar da promessa do Taleban de liberar que quiser sair, não se ouviu uma palavra sobre civis locais.
Isso condiz com a repressão gradual que os fundamentalistas, expulsos do poder por terem abrigado a rede Al-Qaeda durante a preparação e execução dos ataques de 11 de setembro de 2001, têm implementado no país.
Inicialmente, visando ganhar confiança de potenciais doadores internacionais, os Talebans adotaram um tom ameno, dizendo que não repetiriam as trevas que impuseram de 1996 a 2001 no Afeganistão. Mulheres, destas vez, teriam papel ativo na vida pública, desde que em conformidade com a lei islâmica. Como a leitura literal da sharia as relega a papéis domésticos e submissos, como ocorreu na primeira gestão do grupo, a desconfiança ficou no ar.
Assim, desde a quinta-feira (2) passada, grupos de mulheres tomaram corajosamente as ruas em algumas cidades maiores do país, notadamente a capital, Cabul. Houve atos maiores, com centenas de pessoas, e menores.
Após uma surpreendente permissão inicial, veio aos poucos a repressão. Na quarta (8), mulheres e jornalistas foram chicoteados por Talebans. O Ministério do Interior editou seu primeiro decreto desde a terça (7), quando o novo governo afegão foi instalado oficialmente.
Comandada pelo terrorista internacional Sirajuddin Haqqani, a pasta proibiu novas manifestações no país que não sejam autorizadas, e que no momento, "nenhuma está". Slogans contrários ao Emirado, como o país agora é chamado por seus novos-velhos comandantes, estão proibidos.
Jornalistas afegãos contaram em redes sociais que vários atos pequenos foram dispersado em Cabul, mas sem a violência registrada na véspera - em Herat, duas pessoas morreram baleadas na confusão após os Talebans suspenderem um protesto.
Segundo o relato do fotógrafo Nematullah Nadqi, que trabalhava cobrindo um ato feminino em Cabul na quarta para o site Etilaat Roz (Informação Diária), os Talebans prenderam todos que filmavam o protesto com telefones celulares. Ele e seu colega Tari Daryabi foram espancados, dando a medida da liberdade de imprensa sob preceitos islâmicos preconizada pelo Taleban em suas suaves primeiras entrevistas no poder.
Toda essa dinâmica do grupo tem a ver com a sua necessidade de tentar se mostrar aceitável para a comunidade internacional. Quando era líder de uma insurgência, o Taleban precisava de US$ 300 milhões a US$ 1,5 bilhão anuais para manter seus 60 mil soldados e 140 mil aliados.
Agora, comanda uma nação miserável com 37 milhões de pessoas, que tem seus US$ 9,4 bilhões em reservas externas congeladas e ajuda internacional toda bloqueada. O inverno se aproxima, cerca de 1/3 do país passa fome e um surto inflacionário tomou as grandes cidades.
Numa era de comunicação instantânea, contudo, o DNA do grupo é explicitado todos os dias. Nos anos 1990, o virtual fechamento do país e o desinteresse acerca dele no exterior garantiram o regime, que só caiu por sua gentileza com o aliado Osama bin Laden.
Assim, mesmo a China, que apoiou a tomada do poder em troca do fim da ligação Taleban com terroristas islâmicos em seu território, agora exige moderação do grupo. O Ocidente vai na mesma linha, contando com a pressão do dinheiro. Nada garante, contudo, que isso dará certo, e aí só um renovado comprometimento internacional com a situação interna do país evita a volta total ao obscurantismo - ou não.
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