A líder mapuche Elisa Loncón, uma das 17 deputadas eleitas pela cota para povos originários, foi escolhida domingo (4) como presidente da nova Assembleia Constituinte do Chile. Agora, caberá a ela organizar o andamento da redação dos artigos da nova Carta do país e articular o diálogo entre as distintas bancadas que formam o órgão. Dos 155 integrantes da Casa, Elisa recebeu 96 votos.
Elisa se diz uma mulher de esquerda, embora nunca tenha participado ativamente de nenhum partido político - ela afirma se inspirar na tradição mapuche de votar temas em assembleias. Os indígenas chilenos são 9% da população. Destes, 84% são mapuche - o restante está dividido em outras 10 nações.
Elisa, de 58 anos, teve uma infância pobre em Araucanía, região no sul do país. Quando era criança, além de frequentar a escola, ela também vendia frutas, queijos e ovos no mercado de Traiguén, comunidade onde cresceu.
A agora presidente da Constituinte aprendeu a ler com a ajuda do pai, que comprava livros usados para que a filha reforçasse os estudos em casa.
Hoje, Elisa é professora de inglês na Universidad de la Frontera e de mapudungun na Pontifícia Universidade Católica do Chile, em Santiago. Fez sua pós-graduação no Instituto Internacional de Estudos Sociais de La Haya e o doutorado na Universidade de Leiden (ambos na Holanda).
Sua família tem tradição de envolver-se nas lutas mapuche. Seu bisavô e seu tataravô lutaram contra a ocupação militar da Araucania em 1883 e defenderam Temuco, a capital da região.
Parte da população mapuche defende inclusive que a região se separe tanto do Chile quanto da Argentina - parte das terras indígenas estão no país vizinho - para a criação de um novo país independente. Elisa, porém, pertence a uma ala mais moderada, que defende apenas que o Chile reconheça a soberania dos indígenas na região.
Os membros da nova Assembleia vão se reunir por até um ano - nove meses, prorrogáveis por mais três - para redigir uma nova Constituição para o país, em substituição à que vigora desde 1981, escrita sob a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Chama a atenção nesse início de processo o comportamento dos constituintes independentes, grande surpresa da votação ao derrotarem as legendas tradicionais do Chile desde a redemocratização do país.