Com 96,02% das urnas contabilizadas, o candidato de esquerda Pedro Castillo mantinha a vantagem sobre a direitista Keiko Fujimori, encaminhando, assim, a vitória na disputa pela presidência do Peru. Castillo tinha 50,20% dos votos válidos, contra 49,79% de Keiko - uma diferença de 69,7 mil votos.
Com a derrota cada vez mais real, a filha do ex-ditador Alberto Fujimori lançou mão de uma tática que já foi vista nas eleições dos Estados Unidos: acusou o pleito de fraude. Na noite desta segunda-feira, a candidata direitista afirmou que foram detectadas "diversas irregularidades" na votação, o que acarretaria uma "fraude sistemática" no pleito no país.
O Júri Nacional de Eleições, porém, informou que a Missão de Observadores da União Interamericana de Órgãos Eleitorais apresentou relatório no qual afirma que o pleito ocorreu de modo regular e com êxito.
A declaração foi corroborada pela Missão de Observação Eleitoral da OEA (Organização dos Estados Americanos), liderada pelo ex-chanceler do Paraguai Rubén Ramírez Lezcano. Para o órgão, eventuais inconformidades "não comprometeram a eleição como um todo" e podem ser "resolvidas pela via legal".
O analista Fernando Tuesta, ex-titular da Onpe, o órgão eleitoral peruano, diz que a atitude de Keiko ao apontar uma possível fraude é "repugnante". "Ela já deixou de reconhecer os resultados em oportunidades anteriores. E, devido a essa posição, levou o país a níveis de ingovernabilidade que sofremos até hoje."
Um dia antes, durante o café da manhã com eleitores -uma tradição dos candidatos presidenciais no dia da votação-, ela disse que aceitaria os resultados e assumiu um compromisso de respeitar a vontade popular. "Será a decisão que o nosso país definir, se tenho que servir como presidente do Peru ou como uma simples cidadã", afirmou, no domingo (6).
O discurso de Keiko, no entanto, foi mudando de tom conforme a apuração avançava e Castillo assumia a liderança.
Assim, no fim da noite de segunda a filha do autocrata Alberto Fujimori, que liderou o Peru de 1990 a 2000, convocou jornalistas para acusar a existência de fraude e dizer que há uma "clara intenção de boicotar a vontade popular". "Estamos recebendo notícias de irregularidades e por isso pedimos a ajuda de vocês, eleitores e apoiadores", disse.
Se a vitória de Castillo se concretizar, ele será o primeiro presidente peruano sem vínculos com as elites políticas, econômicas e culturais. Sindicalista e professor do ensino médio, ele ficou conhecido nacionalmente ao liderar greves de docentes, a mais famosa delas em 2017.
Castillo defende maiores salários aos empregados do setor da educação, tem um discurso anticorrupção e propõe dissolver o Tribunal Constitucional e a Constituição de 1993 -segundo ele, os responsáveis por permitir práticas irregulares