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Internacional

- Publicada em 27 de Fevereiro de 2021 às 15:11

Escassez, desinformação e desorganização atrasam vacinação na Europa

Reino Unido atingiu as 10 doses por 100 habitantes em 45 dias e já aplicou mais de 27 injeções/100

Reino Unido atingiu as 10 doses por 100 habitantes em 45 dias e já aplicou mais de 27 injeções/100


OLI SCARFF/AFP/JC
Falta de vacina, desinformação e desorganização estão fazendo patinar a vacinação na União Europeia (UE). As campanhas dos principais países, iniciadas há quase dois meses, não chegaram, ainda, a 10 injeções por 100 habitantes. Na média, só 6% tomaram a primeira dose, um desempenho muito inferior ao do Reino Unido, que começou a vacinar em 8 de dezembro, atingiu as 10 doses por 100 habitantes em 45 dias e já aplicou mais de 27 injeções/100.
Falta de vacina, desinformação e desorganização estão fazendo patinar a vacinação na União Europeia (UE). As campanhas dos principais países, iniciadas há quase dois meses, não chegaram, ainda, a 10 injeções por 100 habitantes. Na média, só 6% tomaram a primeira dose, um desempenho muito inferior ao do Reino Unido, que começou a vacinar em 8 de dezembro, atingiu as 10 doses por 100 habitantes em 45 dias e já aplicou mais de 27 injeções/100.
As falhas da UE são mais de execução do que de estratégia. No ano passado, a Comissão Europeia assegurou o fornecimento de mais de 2,3 bilhões de doses de vacinas, suficientes para proteger toda a população do bloco. Por ganhar escala, com a adesão (opcional) dos 27 membros, negociou preços mais baixos.
Também diversificou suas compras com encomendas a seis fornecedores diferentes, dos quais três - Oxford/AstraZeneca, Pfizer/BioNTech e Moderna - já estão aprovadas e sendo usadas. As outras três já se mostraram viáveis em testes e devem estar também nas geladeiras dos sistemas de saúde nos próximos meses: Sanofi/GSK, Janssen e Curevac.
A Comissão também diversificou as tecnologias usadas na produção das vacinas, o que, em tese, dá mais flexibilidade para adaptar cada produto ao público mais indicado.
A realidade mostrou, porém, que só firmar contratos não assegura que a vacina chegue aos braços europeus. No começo deste mês, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, mencionou três falhas na implantação das campanhas: "Demoramos para autorizar, fomos muito otimistas quanto à capacidade de produção e talvez muito confiantes de que o que pedimos seria realmente entregue".
Ao menos neste semestre, o que a UE pediu não será entregue. Desde janeiro, os três fabricantes já aprovados fizeram cortes nas quantidades prometidas, argumentando falta de capacidade de produção e falta de matéria-prima.
A Pfizer, de quem o bloco comprou o maior número de doses (300 milhões), não entregou os 12,5 milhões prometidos até o final de 2020 e chegou a suspender o preparo em uma das plantas para fazer reformas que aumentassem sua capacidade. Países como a Espanha chegaram a parar o serviço de imunização por falta de ampolas.
A AstraZeneca, segunda maior fornecedora, deve entregar apenas 40 milhões dos 90 milhões de doses encomendadas no primeiro trimestre, e há prenúncios de problemas também no segundo trimestre. Nesta terça-feira (23), a AstraZeneca afirmou em comunicado estar "se esforçando para aumentar a produtividade para entregar as 180 milhões de doses prometidas", mas funcionários da empresa disseram à agência Reuters que o fornecimento poderia ser cortado pela metade.
Mas, mesmo onde há doses disponíveis, outros obstáculos têm emperrado a imunização europeia. Um deles é a falta de confiança na vacina de Oxford/AstraZeneca, criada em parte pelos próprios governos - mais de dez países, incluindo Alemanha, França, Itália e Espanha, não aprovaram seu uso para idosos, por falta de dados suficientes sobre o impacto nessa faixa etária.
Na Alemanha, falhas de comunicação que especialistas chamaram de desastrosas contribuíram para elevar a rejeição da população à vacina da AstraZeneca. Além do limite de idade, abaixo dos 65 anos ela é reservada a doentes crônico e profissionais de maior risco, mas apenas 12% das quase 737 mil doses disponíveis foram aplicadas até agora, de acordo com a agência alemã de doenças (RKI).
Um dos fatores que contribuíram para a recusa foi a divulgação de que mais de 20% das pessoas sentiram dores nas articulações e náuseas, 30% sentiram febre e mais de 50%, dor de cabeça e fadiga também abateu a adesão à vacina. Autoridades de saúde tentaram depois esclarecer que as reações são normais, principalmente nos mais jovens e duraram pouco tempo - sem muito sucesso, porém.
Em Berlim, onde os habitantes podiam escolher que imunizante tomar, postos que aplicavam o imunizante chegaram a ficar vazios durante horas. Na quarta-feira (24), a principal autoridade de saúde do estado mudou as regras e proibiu a escolha da vacina a ser aplicada, como fazem os outros 15 estados alemães.
Maior economia da UE, a Alemanha tem o maior abastecimento de vacinas do bloco - além da cota da UE, firmou um acordo próprio para receber 30 milhões de doses extras da Pfizer -, mas, na terça-feira (22), ocupava o 14º lugar em injeções administradas por 100 habitantes.
Também houve relatos de recusa das vacinas da AstraZeneca na Itália e na França, onde o presidente Emmanuel Macron chegou a dizer que o imunizante era "quase ineficaz" para os maiores de 65 anos, poucos dias antes de a agência regulatória da UE aprová-lo para todos os adultos a partir dos 18 anos.
Após o impacto da comunicação desastrada, políticos correram para tentar reverter a situação. O ministro da Saúde francês, Olivier Véran, fez-se filmar enquanto recebia uma injeção de AstraZeneca. "É um privilégio receber um imunizante seguro e eficaz", afirmou seu colega, Jens Spahn.
Mas a forma como os programas de vacinação foram organizados também impedem que eles deslanchem. Na França, um dos obstáculos é a necessidade de passar por uma consulta médica e assinar um termo de consentimento.
Na Bélgica, o governo anunciou na quarta-feira (24) que menos de um terço dos 11 mil profissionais de saúde convidados a se vacinar agendaram a administração da primeira dose. O problema, ao que parece, é a incapacidade das autoridades de saúde de contatar os funcionários.
Os convites foram enviados por e-mail e SMS por meio de uma plataforma federal, mas o governo não tem certeza de que os cadastros estão atualizados e temem que muitos e-mails tenham ido parar nas pastas de lixo eletrônico. Agora, os governos regionais belgas vão reenviar os convites por carta. Com as quebras no fornecimento, a UE pode ter comprometida sua meta de vacinar 70% da população adulta no primeiro semestre deste ano, antes das férias de verão.

Mesmo no Reino Unido, país europeu que mais aplicou doses, há sinais de desgaste

Mas há sinais de desgaste mesmo no Reino Unido, que tem na AstraZeneca seu principal fornecedor e é de longe o país europeu que mais doses já aplicou até agora. Após bater um recorde de quase 610 mil injeções num único dia no final de janeiro e engatar uma média de diária de mais de 430 mil, o país teve que reduzir seu ritmo para cerca de 200 mil aplicações. No domingo (21), só 141 mil pessoas tomaram sua primeira injeção, o menor número desde o começo do ano.
Com a incerteza sobre as entregas dos fabricantes, o governo britânico se viu também forçado a estocar produto para garantir a administração da segunda dose em quem recebeu a primeira 12 semanas antes.
O governo reconheceu a redução no ritmo, mas afirmou que a imunização voltará a se acelerar em março. Tanto a Inglaterra quanto a Escócia trabalham com a meta de aplicar ao menos a primeira dose em todos os maiores de 50 anos, os funcionários de saúde e os doentes crônicos até 15 de abril.
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