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Internacional

- Publicada em 30 de Janeiro de 2021 às 14:26

Biden indica que vai manter política de Trump contra China

Biden precisa equilibrar a renovação de alianças com o esforço para conter o avanço chinês

Biden precisa equilibrar a renovação de alianças com o esforço para conter o avanço chinês


Drew Angerer/Getty Images/AFP/JC
Joe Biden usou grande parte dos primeiros dias de seu governo para mostrar que vai reverter uma série de medidas implementadas por Donald Trump e iniciar uma nova era nos Estados Unidos. Mas há uma frente bastante estratégica em que o democrata parece seguir os mesmos caminhos do antecessor: a relação com a China.
Joe Biden usou grande parte dos primeiros dias de seu governo para mostrar que vai reverter uma série de medidas implementadas por Donald Trump e iniciar uma nova era nos Estados Unidos. Mas há uma frente bastante estratégica em que o democrata parece seguir os mesmos caminhos do antecessor: a relação com a China.
A persistência das tensões entre Washington e Pequim já era esperada, mas, desde que chegou à Casa Branca, Biden deu sinais que vão além. O democrata mostrou que algumas das políticas mais assertivas do governo Trump devem ser mantidas -ou até reforçadas- quando o assunto for China.
A diferença, afirmam especialistas, deve ficar na forma de execução dessas medidas, maquiada por um discurso ao menos um pouco mais suave do que aquele ecoado pelo republicano.
Com a promessa de reposicionar os EUA no centro do debate multilateral, Biden precisa equilibrar a renovação de alianças com o esforço para conter o avanço chinês, numa rivalidade histórica potencializada sob a crise econômica e uma pandemia que já matou mais de 430 mil americanos.
Diante do governo Xi Jinping, defesa e comércio são as áreas que devem receber mais atenção de Biden, com foco em restringir a expansão da tecnologia chinesa pelo mundo -cenário que pode ter reflexos diretos no Brasil, com a implementação da rede 5G.
Diretora do Instituto Internacional da Universidade de Michigan, Mary Gallagher é especialista em política chinesa e afirma que Biden deve sustentar muitas das medidas de Trump sobre a potência asiática, inclusive com apoio do Partido Republicano. "A retórica será suavizada, mas a prática permanece assertiva", explica.
"No governo Trump, políticas sobre a China tinham má execução, não eram bem coordenadas, porque Trump não era um bom líder. [...] Agora as coisas serão menos dispersas, menos performáticas e mais realistas."
Trump atacava a China de forma agressiva e recorrente também como forma de desviar a atenção de sua má condução da crise durante a pandemia de coronavírus -além de lançar mão de um inimigo externo para tentar reunir seus apoiadores em torno de seu discurso nacionalista e protecionista.
Na segunda-feira (25), a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, refletiu o tom do novo governo sobre Pequim.
Durante uma entrevista coletiva, a assessora de Biden usou palavras como "aliados" e "parceiros" para tratar da relação com a China, sem deixar de dizer que a conduta do país asiático "fere os trabalhadores americanos" e exige uma abordagem específica dos EUA.
"A competição estratégica com a China é uma característica definidora do século 21. A China está engajada em uma conduta que fere os trabalhadores americanos, mitiga nossa vantagem tecnológica e ameaça nossas alianças e nossa influência em organizações internacionais", afirmou Psaki.
"O que vimos nos últimos anos é que a China está se tornando mais autoritária em termos domésticos e mais assertiva no exterior e está desafiando nossa segurança, prosperidade e valores de maneira significativa."
Nomeado por Biden, o novo secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, já tinha escalado vários degraus ao se referir à China durante sessão no Senado do processo que o confirmaria ao cargo, ainda antes da posse.
Austin disse que o país asiático "representa a ameaça mais significativa no futuro porque está em ascensão" e enfatizou a necessidade de os EUA darem uma resposta mais forte principalmente sobre tecnologia.
Ele disse também que a Estratégia de Defesa Nacional de 2018, assinada por Trump e que apresentava a China e a Rússia como sérias ameaças, está "absolutamente no caminho certo para os desafios de hoje".
Responsável pela diplomacia americana, o secretário de Estado, Antony Blinken, foi menos agressivo e se ateve a dizer que a China é o relacionamento mais importante para os Estados Unidos.
Sob Trump, os americanos tentaram banir ou ao menos limitar a participação da empresa chinesa Huawei no leilão de 5G no Brasil -previsto para este ano-, sob argumento de que a companhia repassa informações sigilosas ao governo chinês, o que ameaça a segurança de dados do Brasil e a cooperação com os EUA.
Sem oferecer detalhes, Psaki sugeriu que Biden deve manter a Huawei e outras empresas chinesas sob escrutínio, como fez Trump. O democrata também não deve se opor a uma das últimas medidas do governo do republicano, que acusou formalmente a China de genocídio contra a minoria muçulmana em Xinjiang.
O governo chinês é criticado internacionalmente por manter uigures em enormes centros de detenção. Em 2018, uma equipe da ONU recebeu denúncias de que ao menos 1 milhão de uigures e de outras minorias muçulmanas estavam detidas e disse ter provas disso.
Pequim nega as acusações de abuso e diz que os locais são espaços de reeducação, voltados a combater o extremismo e a ensinar novas habilidades.
Autora de um livro sobre o autoritarismo na China, a professora Gallagher diz que a atuação de Biden deve ter o respaldo de parte expressiva da população americana, em que o sentimento anti-China tem crescido de forma bipartidária há décadas -mas que agora foi intensificado sob a crise econômica e a pandemia.
"Tem a ala protecionista democrata, o anticomunismo da ala de extrema direita entre republicanos, e os evangélicos, focados na questão do aborto e dos valores", afirma Gallagher.
Para ela, Biden não deve abandonar medidas protecionistas em termos econômicos, em um aceno aos trabalhadores do Meio-Oeste americano, região decisiva na disputa à Casa Branca.
Desde a campanha eleitoral, o democrata critica o que chama de práticas comerciais abusivas por parte da China e, na semana passada, assinou uma ordem executiva para fortalecer as diretrizes do governo que visam apoiar a indústria nacional, assim como Trump já havia feito.
A guerra comercial travada com a China por anos custou aos Estados Unidos cerca de 245 mil empregos, segundo estimativa da Oxford Economics, em relatório feito em parceria com o Conselho Empresarial EUA-China, e não trouxe os benefícios que o republicano prometeu para os americanos.
A primeira fase do acordo foi assinada por Trump em janeiro do ano passado, e ainda não está claro como Biden vai lidar com as tarifas remanescentes das negociações.
A disputa entre as duas potências inclui ainda questões políticas como a autonomia de Hong Kong, a soberania sobre o mar do sul da China, e o poderio militar.
Diante da pandemia e de uma crise que deixou milhões de desempregados, o novo presidente dos EUA tem problemas internos hercúleos, mas aliados admitem que encontrar o ponto de equilíbrio na relação com a China é um dos grandes desafios na política externa, no momento em que a potência asiática tenta ocupar o posto de provedor global para o qual os EUA desejam voltar.
Folhapress
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