Os verdes são os apoiadores do projeto de lei, enquanto os celestes se opõem a ele. Os dois grupos reúnem organizações sociais de quase todas as províncias do país e se identificam pelo uso de lenços, camisetas e bandeiras, com a cor de sua convicção.
Os manifestantes precisam estar preparados para uma longa jornada na praça - calcula-se que serão 30 horas de discursos, pela quantidade de legisladores que se inscreveram para falar. A votação só pode ocorrer depois do fim das intervenções, portanto, na tarde desta sexta-feira.
Para ser aprovada, a proposta precisa de 129 votos favoráveis. Segundo estimativas da imprensa argentina, há 124 deputados a favor e 110 contra. Outros 20 estão indecisos ou não declararam sua posição.
Se o projeto passar pela Câmara de Deputados, ainda precisa ir ao Senado - onde tem mais chance de ser aprovado, porque a Casa tem maioria peronista e votações comandadas pela vice-presidente, Cristina Kirchner, que é favorável à medida. Como moderadora, além de ter o voto de minerva em caso de empate, ela pode suspender objeções pedidas pelos senadores.
"Estamos mais preparados desta vez do que em 2018", diz Laura Salome, de 39 anos, coordenadora da campanha verde, em referência à votação anterior do projeto, aprovado na Câmara, mas rejeitado no Senado por diferença pequena de votos há dois anos.
A campanha verde também contará com um pequeno palco, onde haverá discursos sobre o projeto e de onde elas planejam comandar a festa da aprovação. "Estamos confiantes. É uma lei urgente. Com ou sem pandemia, o aborto clandestino continua matando mulheres, os abusos continuam ocorrendo", afirma Laura.
Do outro lado da praça, os celestes também pretendem deixar claro por que são contra a lei. "Defendemos outras políticas para evitar o aborto e salvar as duas vidas, a da mãe e a do bebê", diz Milagros Bitti, de 22 anos, da ONG Frente Jovem Contra o Aborto. "Lutamos por um programa estatal que ajude as mães que não têm como manter a gravidez por razões pessoais ou econômicas. Defendemos um projeto de assessoria integral à gravidez vulnerável e que evite os abortos."
Seu grupo estará na praça com outras associações de todo o país, algumas apoiadas por grupos políticos e pela Igreja. "Apresentamos mais de 20 projetos alternativos ao aborto, de prevenção, educação e assistência às mulheres, mas eles foram engavetados."
Para Bitti, a legislação proposta agora é "ainda mais radical que a de 2018", por permitir, em caso de risco de morte da mãe, "um aborto até os nove meses de idade do bebê, o que é um crime".