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Venezuela

- Publicada em 07 de Dezembro de 2020 às 16:37

Chanceleres de potências do continente não reconhecem resultado da eleição na Venezuela

Maduro, que tem alta rejeição, transferiu o domicílio eleitoral para Forte Tiúna

Maduro, que tem alta rejeição, transferiu o domicílio eleitoral para Forte Tiúna


YURI CORTEZ/AFP/JC
Em uma eleição legislativa com pouca margem para surpresa, já que a maior parte da oposição boicotou o processo, o que chamou atenção no domingo (6), na Venezuela, foi a alta abstenção - 69%. Pouco depois da divulgação do resultado, chanceleres das maiores potências do continente declararam não reconhecer o resultado do pleito.
Em uma eleição legislativa com pouca margem para surpresa, já que a maior parte da oposição boicotou o processo, o que chamou atenção no domingo (6), na Venezuela, foi a alta abstenção - 69%. Pouco depois da divulgação do resultado, chanceleres das maiores potências do continente declararam não reconhecer o resultado do pleito.
De acordo com o boletim divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a aliança do Grande Polo Patriótico, apoiada por Maduro, obteve 67,7% dos 5,2 milhões de votos apurados, enquanto o setor de oposição que rompeu um boicote liderado por Juan Guaidó obteve 18%. Ainda não se especificou quantos dos 277 assentos correspondem a cada sigla.
Durante todo o domingo, os centros eleitorais do país ficaram vazios. Maduro, que tem alta rejeição, transferiu o domicílio eleitoral para Forte Tiúna, em vez de votar em um bairro popular de Caracas, como aconteceu em anos anteriores. "A quantas anda a fraude de Maduro", tuitou o líder opositor Juan Guaidó, postando uma imagem de uma seção eleitoral vazia. "Fracasso."
No início da noite, a ausência de eleitores fez o governo atrasar em uma hora o fechamento das urnas. "Decidimos manter os centros de votação abertos em razão das filas", justificou Leonardo Morales, vice-presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
O governo exaltou a votação como a "festa eleitoral" que marca uma virada na política venezuelana. A Assembleia Nacional vinha sendo controlada pela oposição, que surpreendeu o chavismo, em 2015, ao eleger a maioria dos deputados. Para não conviver com um Legislativo antagonista, Maduro criou uma Assembleia Constituinte, dominada pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) - que deverá ser extinta assim que os novos deputados assumirem, no dia 5 de janeiro.
Entre as principais forças geopolíticas do continente, Brasil, Estados Unidos e Canadá afirmaram não reconhecer o resultado da eleição venezuelana horas após a divulgação do resultado final. Os chanceleres dos três países afirmaram que o pleito não garantiu condições livres e justas, com alguns deles reafirmando o discurso da oposição de que o processo foi fraudulento.
Na Europa, o governo do Reino Unido afirmou que não vai reconhecer a eleição "profundamente defeituosa". "Seguimos reconhecendo Juan Guaidó como presidente da Assembleia Nacional e como presidente constitucional interino da Venezuela", escreveu o ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab.
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, foi um dos mais enfáticos ao tratar do tema. "A fraude eleitoral da Venezuela já foi cometida. Os resultados anunciados pelo regime ilegítimo de Maduro não refletirão a vontade do povo venezuelano. O que está acontecendo hoje é uma fraude e uma farsa, não uma eleição", escreveu no Twitter.
O tom crítico do responsável pela política externa do governo de Donald Trump foi seguido pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo. O chanceler afirmou que o processo era uma tentativa de Maduro de se legitimar, o que só funcionaria "aos olhos daqueles que apreciam ou toleram a ditadura e o crime organizado". Araújo também destacou o baixo comparecimento dos eleitores e classificou o pleito como uma "farsa eleitoral".
Apesar de também não reconhecer o resultado das eleições, a abordagem do ministro das Relações Exteriores do Canadá, François-Philippe Champagne, foi mais sutil e evitou usar as palavras "fraude" ou "farsa". Em vez disso, o chanceler justificou que a eleição não reuniu o mínimo de condições para um "livre e justo" exercício da democracia.

Com o controle do Parlamento, Maduro ganha poder internacional para captar investimentos

O economista Victor Álvarez, ex-ministro de Indústrias do governo de Hugo Chávez, acredita que a nova Assembleia "muda o marco legal". "É o primeiro passo para que as novas leis aprovadas tenham reconhecimento internacional", afirmou.
Álvarez avalia que "um Estado sem os recursos da estatal petrolífera PDVSA e sem fundos para levantar a produção e reativar a economia deve se abrir a investimentos privados". De acordo com ele, a participação privada poderia incentivar privatizações na Bacia do Orinoco e em empresas que exploram outros recursos naturais, como ferro, ouro e diamantes.
O analista Dimitris Pantoulas acredita que a eleição encerrou ciclos importantes. "Um deles foi a derrota do chavismo, em 2015. O outro é o de Juan Guaidó, quando a oposição tinha legitimidade e reconhecimento internacional", afirmou. Apesar da desconfiança de EUA e Europa, segundo Pantoulas, "Maduro passa a ter muito mais poder" com a legalidade da nova Assembleia.
"A dinastia de Maduro, com seu filho Nicolasito (Nicolás Maduro Guerra) e a mulher Cília Flores, reforça a figura presidencial. Com isso, os EUA têm de negociar diretamente com ele, e não através de terceiros. É provável que a relação com Washington, nos próximos anos, seja mais horizontal", disse.