O veterano político libanês Saad Hariri foi nomeado como primeiro-ministro pela quarta vez nesta quinta-feira (22) e prometeu formar um novo governo que consiga lidar com a pior crise do país desde a guerra civil de 1975-1990. O empresário de 50 anos disse que formará "um governo de especialistas" que não venham dos partidos políticos e "cuja missão será a aplicação de reformas econômicas, financeiras e administrativas".
Herdeiro de uma imensa fortuna, o político já exerceu três mandatos como premiê desde 2009 - o posto é reservado a muçulmanos sunitas no sistema de partilha de poder libanês.
Seu último gabinete de coalizão foi derrubado quase exatamente um ano atrás, quando manifestantes sacudiram o país protestando contra a elite governante por causa das décadas de corrupção e desperdício estatais. Hariri, o único candidato nas negociações desta quinta-feira, foi apoiado pela maioria dos parlamentares.
Ele enfrenta grandes desafios para navegar pela política sectária do Líbano e formar um gabinete, que depois precisa resolver uma lista crescente de problemas: crise bancária, enfraquecimento da moeda nacional, pobreza em ascensão e dívidas estatais debilitantes.
Hariri começará suas consultas com os distintos blocos parlamentares para formar o governo na tarde desta sexta-feira (23), segundo o Parlamento.
No Líbano - um país multirreligioso onde o presidente deve ser um cristão maronita, o primeiro-ministro um muçulmano sunita e o chefe do Parlamento um muçulmano xiita -, os líderes se veem muitas vezes forçados a um cabo de guerra sem fim que prolonga por meses a formação de governo. Hariri obteve o apoio da maioria dos deputados sunitas e do partido do líder druso Walid Jumblatt.
O bloco do Hezbollah, um peso-pesado na política libanesa, não expressou nenhuma preferência, mas seu principal aliado, o movimento Amal, apoiou a nomeação de Hariri, sugerindo um acordo tácito do Hezbollah xiita. "São as forças políticas tradicionais que mais uma vez escolheram qual rumo seguir, apesar de seus muitos fracassos do passado e do profundo ceticismo sobre o futuro", declarou no Twitter o coordenador especial da ONU para o Líbano, Jan Kubis.
A União Europeia destacou a "necessidade da rápida formação de um governo confiável e responsável". O subsecretário norte-americano para o Oriente Médio, David Schenker, disse que qualquer novo governo deve implementar reformas e que Washington "continuará aplicando sanções contra o Hezbollah e seus aliados libaneses". A comunidade internacional espera que o novo governo empreenda amplas reformas antes de desbloquear a assistência financeira.
Há um ano, o Líbano foi palco de um protesto popular sem precedentes, que exigia a renovação da classe política e serviços públicos dignos, em um país submetido a cortes de eletricidade diários, assim como a melhora da situação econômica, que se agravou no último ano. O país vive uma desvalorização histórica da moeda nacional. Além disso, vivencia milhares de demissões e cortes salariais. Metade da população vive na pobreza.