Ao chegar à cidade, o líder francês se posicionou como um articulador para organizar a cooperação internacional enviada ao país, mas defendeu a necessidade de reformas políticas e econômicas no Líbano e pediu que o país reforce o combate à corrupção. "A prioridade hoje é ajuda, apoio incondicional à população. Mas há reformas indispensáveis em certos setores que a França exige há meses, anos", disse Macron. "Não podemos ajudar sem apontar algumas verdades inconvenientes. Se essas reformas não forem feitas, o Líbano continuará a afundar."
O governo da França, antiga potência colonial que administrou o Líbano no início do século XX, começou a enviar assistência médica e profissional a Beirute no dia seguinte à explosão. "Quero organizar a cooperação europeia e, mais amplamente, a cooperação internacional", disse Macron.
Enquanto caminhava por Beirute, Macron foi acompanhado por grupos de libaneses que entoavam palavras de ordem pedindo "revolução" e a "queda do regime". "Vejo a emoção no rosto de vocês, a tristeza, a dor. É por isso que estou aqui", disse ele a um grupo, apertando as mãos dos presentes. "Mas o que também é necessário aqui é uma mudança política. Essa explosão deve ser o início de uma nova era", acrescentou o líder francês.
"Entendo a raiva de vocês. Não estou aqui para passar um cheque em branco ao regime." Macron prometeu à multidão que a ajuda da França não irá para "mãos corruptas" e disse que sua visita ao Líbano tem o objetivo de pedir "um novo pacto" com as forças políticas locais.
Aos gritos, uma mulher interrompeu a caminhada de Macron para acusá-lo de estar se encontrando com "os senhores da guerra", em referência ao presidente do Líbano, Michel Aoun, e ao primeiro-ministro, Hassan Diab. "Não estou aqui para ajudá-los, estou aqui para ajudar você", respondeu Macron, e abraçou a mulher.
Macron abraçou a mulher que o acusou de estar se encontrando com os "senhores da guerra". Foto: Thibault Camus/POOL/AFP
A atitude contrasta com a postura do presidente francês ao desembarcar no aeroporto de Beirute e ser recebido pela comitiva do governo libanês. Usando máscaras e mantendo distância física, os líderes dos dois países se cumprimentaram apenas com um gesto de mãos e um aceno de cabeça.
Dezenas de pessoas ainda estão desaparecidas em Beirute, e as autoridades estimam que 300 mil estão desabrigadas. A explosão destruiu mais da metade da capital libanesa, de acordo com o governador de Beirute, Marwan Abboud, que classificou a situação como "apocalíptica" e a comparou às explosões nucleares em Hiroshima, 75 anos atrás.
Equipes de busca continuam procurando vítimas e sobreviventes entre os escombros dos prédios e de outras construções devastadas pela explosão. O cenário é de luto, mas também de otimismo. "Acreditamos que há boas chances de encontrar pessoas vivas", disse a Macron o coronel francês Vincent Teissier, que trabalha na busca de desaparecidos.
Entre os sobreviventes, familiares das vítimas e outros moradores da capital libanesa, os sentimentos variam entre o luto, a solidariedade e a indignação. Nas redes sociais, diversos usuários têm feito publicações para ajudar a localizar os desaparecidos e oferecer moradia aos milhares de desabrigados.
Centenas de voluntários se uniram para retirar os escombros das ruas e outros colocaram mesas de plástico nas ruas com bebidas e alimentos para os necessitados. Empresários e comerciantes estão oferecendo serviços gratuitos para reparar portas, pintar paredes ou substituir janelas.