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Internacional

- Publicada em 25 de Junho de 2020 às 19:25

Por eleição, Trump pressiona Brasil a aumentar importação de etanol americano

A entrada do álcool estrangeiro no país afeta principalmente pequenos usineiros no Nordeste

A entrada do álcool estrangeiro no país afeta principalmente pequenos usineiros no Nordeste


CLAITON DORNELLES /JC
O governo Donald Trump desencadeou uma ofensiva diplomática para que o Brasil aceite aumentar a cota de importação do etanol no país, sob o argumento de que o gesto vai melhorar as chances de reeleição do americano em estados produtores de milho.
O governo Donald Trump desencadeou uma ofensiva diplomática para que o Brasil aceite aumentar a cota de importação do etanol no país, sob o argumento de que o gesto vai melhorar as chances de reeleição do americano em estados produtores de milho.
Segundo relatos, os americanos trabalham pelo fim de uma cota de importação anual sem tarifa de 750 milhões litros de etanol -o que ultrapassa esse volume paga uma taxa de 20%.
A cota em vigor já é resultado de um agrado aos americanos: até o ano passado ela era limitada a 600 milhões de litros por ano, mas foi incrementada para o valor atual após gestões da administração Trump.
Os EUA produzem etanol a partir do milho, e o produto é mais barato que o similar brasileiro, feito com cana-de-açúcar.
Os americanos são os maiores vendedores da substância ao Brasil: em abril, segundo dados do governo compilados pela UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), foram 142,5 milhões de litros importados, sendo que 127,6 milhões vieram dos EUA.
A entrada do álcool estrangeiro no país afeta principalmente pequenos usineiros no Nordeste, que no ano passado tentaram, sem sucesso, impedir a elevação da cota de importação.
O fim das barreiras de importação é um pleito antigo dos EUA, mas os americanos voltaram à carga nas últimas semanas com novos argumentos.
O principal deles, apresentado em conversas com autoridades brasileiras, é que desta vez o tema é politicamente sensível porque Trump deve se beneficiar eleitoralmente do aumento de vendas de etanol nos estados do meio-oeste que fazem parte do Corn Belt (cinturão do milho).
A cota de importação atual vence no final de agosto, quando o presidente Jair Bolsonaro precisará decidir se atende ao pleito de seu aliado estratégico ou não. Tentam resistir ou ao menos reduzir os impactos de uma nova concessão os produtores nacionais de etanol, a bancada ruralista no Congresso e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
No governo brasileiro, as principais vozes em defesa do fim da cota para o etanol americano são o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República.
Eles são expoentes da chamada ala ideológica e advogam por um alinhamento automático com os Estados Unidos.
Membros da administração Bolsonaro e parlamentares que são contrários ao novo aceno a Washington têm argumentado que os americanos estão usando uma justificativa política para conseguir uma vitória comercial há muito desejada: o fim de obstáculos para a venda de etanol no Brasil.
Nada indica, dizem, que o levantamento das barreiras teria potencial para influenciar de forma significativa a disputa eleitoral nos estados do meio-oeste.
Eles lembram ainda que o setor sucroalcooleiro dos EUA, a exemplo do brasileiro, enfrenta uma crise sem precedentes por conta dos impactos do novo coronavírus. Isso porque a demanda interna pelo combustível despencou com a queda do preço da gasolina.
Um interlocutor ouvido pela reportagem pontua que os americanos estão tentando resolver um desequilíbrio doméstico do setor "jogando etanol no Brasil".
O assunto tem mobilizado a bancada ruralista.
O presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), deputado Alceu Moreira (MDB-RS), diz que o grupo se opõe à liberalização total das importações de álcool, mas admite que, diante da pressão dos americanos, talvez seja preciso aumentar a cota novamente.
"É um assunto que é diplomático e de grande complexidade, mas que o governo não tem condições de decidir sem passar pelo Congresso", afirmou.
"Quando tem uma eleição da presidencial americana nesse jogo, é claro que todos os assuntos se tornam de grande importância para eles. Precisamos levar isso em consideração, desde que não signifique quebrar os nossos produtores".
As negociações do ano passado foram tensas, e os americanos chegaram a argumentar que o tema seria definidor para o futuro da relação entre os dois países.
À época, a ministra da Agricultura conseguiu convencer Bolsonaro de que o setor não aceitaria a extinção total da barreira comercial, mas mesmo uma medida menos drástica --a elevação da cota em 150 milhões de litros-- foi recebida com fortes protestos no Congresso.
Os parlamentares chegaram a ameaçar derrubar a portaria que aumentou a cota, mas recuaram após o Planalto defender que o aceno era importante para a relação estratégica que Bolsonaro estava construindo com Trump.
A expectativa é que o assunto volte a inflamar os ânimos dos congressistas ligados ao agronegócio, uma vez que eles consideram que o governo não tem atendido os pedidos de socorro do setor sucroalcooleiro.
O coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucro-Energético, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), chegou a apresentar um projeto de lei para proibir temporariamente a importação de etanol combustível devido à crise do novo coronavírus.
Procurado, o Ministério da Agricultura disse que o assunto ainda está sendo analisado e que, portanto, não comenta o caso.
A Embaixada americana em Brasília afirmou, em nota, que os Estados Unidos buscam o retorno ao "comércio livre e justo de etanol" e que há no momento conversas com o governo brasileiro sobre a redução de barreiras comerciais, inclusive para o álcool combustível.
"Nosso principal pedido é que, quanto mais reduzimos as barreiras, maior será o desenvolvimento do nosso comércio. Temos o potencial de aumentar nosso comércio bilateral em várias frentes, inclusive no etanol", declarou a missão diplomática.
Perguntada, a embaixada não respondeu se os EUA, nas conversas com autoridades brasileiras, têm destacado o atual cenário político americano e a disputa eleitoral marcada para o início de novembro.
O Itamaraty não respondeu a questionamentos enviados pela reportagem.
 
Folhapress
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