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Internacional

- Publicada em 07 de Maio de 2020 às 16:46

Na Europa, cidades agem para manter silêncio e ar puro da quarentena

INT - Situação na Itália é a mais crítica entre os países da Europa em razão do coronavírus - saúde A woman and a girl walk their dog across a deserted Campo Dei Fiori square in downtown Rome on March 10, 2020, as Italy imposed unprecedented national restrictions on its 60 million people on March 10 to control the deadly coronavirus. (Photo by Alberto PIZZOLI / AFP)

INT - Situação na Itália é a mais crítica entre os países da Europa em razão do coronavírus - saúde A woman and a girl walk their dog across a deserted Campo Dei Fiori square in downtown Rome on March 10, 2020, as Italy imposed unprecedented national restrictions on its 60 million people on March 10 to control the deadly coronavirus. (Photo by Alberto PIZZOLI / AFP)


ALBERTO PIZZOLI/AFP/JC
As ruas ficaram livres, o bairro silenciou e o ar ficou mais limpo. Na hora de sair da quarentena, cidades na Europa querem aproveitar a oportunidade para manter o que poderia ser chamado de lado bom do confinamento.
As ruas ficaram livres, o bairro silenciou e o ar ficou mais limpo. Na hora de sair da quarentena, cidades na Europa querem aproveitar a oportunidade para manter o que poderia ser chamado de lado bom do confinamento.
Também correm para evitar o pior. Antes vistos como ótima opção, os transportes públicos estarão em baixa até o coronavírus ser controlado, por causa do risco de contágio.
Paris, Bruxelas, Madri, Milão e as britânicas Manchester e Liverpool, entre outras, querem convencer passageiros a não virarem motoristas, produzindo congestionamentos gigantes e deixando o ar mais irrespirável do que era antes da pandemia.
Com tamanhos, características e modelos de transporte diferentes, as cidades fazem planos que variam em ambição, mas cujo objetivo é chegar mais perto de ser como Amsterdã: uma cidade em que 61% das pessoas usam bicicletas ou caminham para cumprir as atividades do dia a dia.
"Vamos zerar a contagem e criar um novo futuro", diz Steve Rotheram, prefeito da Grande Liverpool, cerca de 300 km a noroeste de Londres. Rotheram e seu colega trabalhista Andy Burnhman, que governa a Grande Manchester, a 62 km dali, não querem voltar ao "business as usual" (a vida normal, em tradução livre): "Temos que manter os benefícios que conquistamos e construir cidades mais limpas, mais seguras, mais fortes e mais justas".
Os números estão contra eles. Nas duas cidades, a maioria dos habitantes já usa carros no dia a dia, e uma pesquisa feita no mês passado com 3.000 britânicos mostra que, na média, 48% dos usuários de transporte público são menos propensos a voltar ele após a quarentena, e 56% dos habilitados que ainda não têm carro pensam em comprar um.
Na Grande Manchester, os congestionamentos custam por ano 1,3 bilhão de libras (cerca de R$ 8 bilhões) às empresas da cidade, nos cálculos do governo.
A região quer construir uma rede de ciclovias e calçadas com quase 3.000 km de vias interligadas.
Todos os bairros seriam conectados, para permitir que os dois terços dos habitantes que hoje dirigem troquem os pedais do acelerador pelos das bicicletas, ou pelas calçadas. "As pessoas querem manter o ar limpo, querem continuar fazendo exercícios, talvez queiram ter uma vida profissional mais flexível, sem ter que ir ao escritório todos os dias", disse o prefeito de Manchester.
Bruxelas também vê nos ciclistas e pedestres a solução para evitar ônibus lotados sem criar problemas que não existiam antes: metade de seus residentes não possui carro, segundo o governo.
A capital belga planeja transformar 40 km de faixas de carros e vagas de estacionamento em ciclovias. No centro, veículos a motor só poderão rodar a até 20 km/h.
Na França, a ministra da Ecologia, Elisabeth Borne, anunciou no final de abril planos de impulsionar as bicicletas como prioridade no desbloqueio da quarentena, com ciclovias temporárias e investimentos de 20 milhões de euros (R$ 126 milhões).
Paris já havia anunciado que avenidas ao longo de linhas de metrô virariam ciclovias, para desafogar os vagões. A cidade já tem uma política específica para ciclistas, que inclui ajuda financeira na compra da bicicleta.
Em Milão, o deslocamento médio é inferior a 4 km, facilitando a troca de carros por outros meios de transporte.
Até o final do ano, Milão pretende construir 35 km de novas ciclovias, além dos 220 km que já existem, e ampliar os estacionamentos. Várias vias terão velocidade limitada a 35 km/h.
A prefeitura também quer incentivar o trabalho remoto e mudar escalas de entrada em empresas e de abertura do comércio, para evitar horários de pico no transporte público.
"A emergência de saúde que estamos enfrentando mudará profundamente a maneira como vivemos e nos comportamos", afirma o prefeito da cidade, Giuseppe Sala.
Segundo ele, além de priorizar o uso privado e compartilhado de bicicletas e scooters elétricas, o plano de mobilidade pós-quarentena de Milão prevê incentivo para o uso de carros híbridos ou elétricos.
A cidade antes tinha planos de se tornar sustentável até 2030, mas agora quer acelerar para 2020. "Em vez de pensar no futuro, temos que pensar no presente."
É essa também a proposta das metrópoles do noroeste britânico: um programa nacional de incentivo a que pequenas empresas e trabalhadores autônomos troquem seus veículos a gasolina ou diesel por outros ecológicos.
Os prefeitos tentam responder a uma preocupação de vários governos nacionais europeus: a recuperação da indústria automobilística, uma das mais atingidas durante a pandemia.
Alemanha e Espanha adotaram medidas mais gerais para incentivar a adoção de alternativas aos carros após a quarentena.
Na Alemanha, veículos não podem parar nem por um segundo sobre uma ciclovia, e a distância obrigatória de 1,5 metro ao ultrapassar ciclistas terá a fiscalização intensificada.
Na Espanha, o Ministério da Transição Ecológica começou uma campanha para promover bicicletas. A administração de Madri pretende ampliar as zonas de pedestres e criar uma faixa exclusiva para ciclistas nas avenidas, estabelecendo 30 km/h como velocidade máxima.
Também deve facilitar temporariamente o transporte de bicicletas em trens e ônibus.
"Os governos têm uma chance única de reconstruir a economia privilegiando soluções verdes, que promovam emprego e renda e melhorem o bem-estar e o ambiente", disse o secretário-geral da OCDE (grupo de 37 países desenvolvidos), Angel Gurría.
Segundo relatório da organização, a poluição do ar é o principal fator de risco para a saúde, e 9 em cada 10 pessoas respiram ar com um nível de poluição no mínimo inadequado.
Em dois terços dos países da OCDE, o nível de partículas no ar excede o limite recomendado pela OMS, de 10 ?g/m3.
Folhapress
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