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Internacional

- Publicada em 22 de Abril de 2020 às 19:51

Congo enfrenta ebola e, agora, pandemia de coronavírus

África combate o segundo maior surto de ebola, com 2.266 mortos

África combate o segundo maior surto de ebola, com 2.266 mortos


SIMON MAINA/AFP/JC
Enquanto a Covid-19 monopoliza a atenção global, uma epidemia esquecida segue matando em uma das regiões mais instáveis da África. O surto de ebola no Leste da República Democrática do Congo foi oficialmente declarado em agosto de 2018 e desde então já deixou 2.266 mortos entre 3.311 infectados.
Enquanto a Covid-19 monopoliza a atenção global, uma epidemia esquecida segue matando em uma das regiões mais instáveis da África. O surto de ebola no Leste da República Democrática do Congo foi oficialmente declarado em agosto de 2018 e desde então já deixou 2.266 mortos entre 3.311 infectados.
A taxa de mortalidade é de estratosféricos 68,4%, ou dez vezes a do coronavírus na média mundial (6,88%). Dentre os infectados, 29,2% são crianças. Este já é o segundo maior surto de ebola da história, perdendo apenas para o que atingiu países da África ocidental entre 2013 e 2016, quando houve mais de 11 mil mortos.
Há duas semanas, a epidemia esteve muito próxima de terminar. Apenas 48 horas antes de vencer o prazo mínimo de 42 dias sem um novo caso, que encerraria oficialmente a crise, um eletricista de 26 anos morreu de ebola em Beni. Desde então, surgiram pelo menos mais dois casos, e a perspectiva é que a epidemia se prolongue por no mínimo mais alguns meses, podendo novamente sair de controle.
Em comunicado no dia 14 de abril, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reconheceu que "um progresso enorme foi feito para conter esse surto em circunstâncias muito difíceis". Mas lamentou que grupos armados estão ativos na área onde os casos foram identificados.
Além disso, afirmou que "a falta de recursos limita a resposta e a pandemia da Covid-19 criou mais desafios para uma operação que já é complexa". Desde o ano passado, há uma vacina, mas a logística de distribuição no Leste do país é dificultada pela infraestrutura de transporte precária e pela situação de insegurança.
A incidência do coronavírus nas regiões afetadas pelo ebola ainda é relativamente pequena, com algumas dezenas de casos, mas a doença tem avançado rapidamente. Localizada no Centro da África, a República Democrática do Congo tinha, até terça-feira (21), 350 casos confirmados de Covid-19, com 25 mortes, segundo dados do Worldometer. Eles estão espalhados pelo território congolês, ao contrário do ebola, concentrado em duas províncias do Leste, Ituri e Kivu Norte.
O país ainda enfrenta um surto de sarampo na região Oeste, que já deixou 6 mil mortos desde o início de 2019. Para as equipes de ajuda humanitária que estão há quase dois anos tentando conter o alcance de ebola, a chegada de uma epidemia "concorrente" é uma péssima notícia.
"O surto no Congo sempre foi uma crise esquecida", diz Johnson Lafortune, responsável pelo combate ao ebola da ONG World Vision International. "Agora ela ocorre junto com uma crise global, em que os países que costumam doar recursos contra o ebola também estão sendo afetados."
Lafortune conversou com a Folha de Goma, na fronteira com Ruanda, que vive há décadas os efeitos da instabilidade crônica da região. Desde os anos 1990, dezenas de grupos armados disputam controle sobre o Leste da República Democrática do Congo, região rica em minerais.
"Temos casos de intrusão de grupos armados em vilas no meio dessa crise", afirma Lafortune. Em razão dos ataques, milhares de pessoas estão constantemente em movimento, o que dificulta o tratamento dos doentes e ajuda a espalhar o vírus. Embora as doenças tenham paralelos, há diferenças importantes que acabam atrapalhando o trabalho de combate ao ebola.
Enquanto o coronavírus é transmissível pelo ar, o ebola se propaga sobretudo por meio do contato com o corpo ou fluidos vitais de um contaminado, além de objetos que possam ter sido manuseados.
"No caso da Covid-19, a orientação é ficar em casa, não sair para a rua. Para o ebola, a resposta inclui rastrear os contatos que a pessoa teve. Isso significa colocar uma equipe numerosa em campo para fazer esse mapeamento em meio a uma situação de confinamento", explica Lafortune.
A World Vision tem cerca de 100 pessoas dedicadas a combater o ebola no Leste do Congo e mais de mil voluntários em diversas pequenas comunidades. Esses locais, porém, têm resistido à ajuda. A ponte era feita por líderes religiosos, mas igrejas fechadas dificultam o trabalho.
Outro problema, diz ele, é a desesperança de parte da população. "Todos acreditavam que a epidemia de ebola estava acabando, e em seguida veio a Covid-19. As pessoas estão se perguntando o que mais pode acontecer."
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