A Superterça, noite mais decisiva das primárias norte-americanas, serviu para limpar a disputa presidencial democrata, que ficou restrita ao ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden, um moderado, contra o senador Bernie Sanders, um "socialista democrata", como ele se define. Os dois dividiram a maioria das vitórias nas prévias estaduais de terça-feira, e devem disputar entre eles quem será o nome que enfrentará Donald Trump, em novembro.
Segundo projeções, até o início da madrugada de ontem, Biden havia vencido as prévias em estados como Carolina do Norte, Virgínia, Minnesota e Tennessee. Já Sanders havia ganhado em Vermont, Utah, Colorado e lutava voto a voto com o ex-presidente no Texas e em Massachusetts. Na Califórnia, estado mais populoso dos EUA, com mais de 20 milhões de eleitores registrados e que conta lentamente seus votos - a expectativa é de que a apuração total leve dias para ser concluída.
O bilionário ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, que gastou US$ 500 milhões em três meses de campanha, teve um desempenho abaixo do esperado, vencendo somente na Samoa Americana, com 44 delegados. Por isso, anunciou, ontem, que estava desistindo da campanha e endossando a candidatura de Biden.
A disputa democrata foi marcada pelo excesso de candidatos - no total, 29 chegaram a concorrer a indicação. No entanto, desde o início, estava claro que a corrida seria entre as duas alas do partido: os progressistas e os moderados.
Biden, que liderou a corrida presidencial a maior parte do tempo, veio perdendo terreno desde o ano passado. Nas primeiras três prévias - Iowa, New Hampshire e Nevada - Sanders obteve excelentes resultados, saltou como favorito e sua caminhada parecia incontestável. Mas na quarta disputa, a campanha do ex-vice-presidente ressuscitou.
Com a vitória convincente na Carolina do Sul - especialmente com o voto do eleitorado negro -, Biden recebeu o impulso de vários rivais em um espaço de 48 horas: Pete Buttigieg, ex-prefeito de South Bend, e a senadora Amy Klobuchar, que abandonaram as prévias, embarcaram na campanha do ex-vice-presidente dos EUA. Beto O'Rourke, ex-deputado texano e uma das estrelas do partido, também anunciou apoio a Biden.
De acordo com pesquisas de boca de urna, divulgadas na terça-feira, após o encerramento das votações da Superterça, a maioria dos eleitores democratas que decidiu em quem votar na última hora optou por Biden - o que mostra o entusiasmo de sua campanha nos últimos dias.
Na convenção de Milwaukee, em julho, superdelegados dão seus votos
O candidato democrata será definido na convenção de Milwaukee, entre os dias 13 e 16 de julho. Para obter a candidatura, Biden e Sanders precisam obter o apoio da maioria dos 3.979 delegados - escolhidos nas primárias (cerca de 84% do total de votos da convenção) - e 771 superdelegados, que são caciques do partido, líderes estaduais e burocratas, que representam pouco mais de 16% do total de votos em Milwaukee.
Na noite de terça-feira, estavam em disputa 1.357 delegados - cerca de um terço do total que definirá o candidato em julho. Para alguns líderes do Partido Democrata, o pior cenário será se Sanders e Biden seguirem dividindo a votação e o número de votos, sem que ninguém obtenha uma maioria clara durante a convenção.
O impasse obrigaria os 771 superdelegados a decidir o nome do candidato. No momento em que a população parece cansada dos políticos tradicionais, o partido não quer passar a imagem de que a indicação é decidida por burocratas e não pelo voto popular.
As lideranças democratas, portanto, estão diante do dilema de hipotecar apoio a Biden, atrapalhando o caminho de Sanders, e correr o risco de alienar parte do eleitorado do senador, especialmente o exército de jovens dispostos a votar no partido pela primeira vez.