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Portugal

- Publicada em 17 de Fevereiro de 2020 às 20:18

Direita nacionalista com discurso antissistema avança em Portugal

André Ventura anunciou que vai concorrer às eleições presidenciais de janeiro de 2021

André Ventura anunciou que vai concorrer às eleições presidenciais de janeiro de 2021


REPRODUÇÃO CHEGA/DIVULGAÇÃO/JC
Portugal, que até pouco tempo atrás parecia resistir ao avanço da onda de direita radical que se espalha pela Europa, assiste, agora, a um aumento da popularidade de iniciativas desse tipo. Pesquisas de intenção de voto mostram que o recém-criado Chega, partido populista calcado em propostas nacionalistas e discurso antissistema, tem crescido em popularidade, igualando ou até ultrapassando o desempenho de legendas tradicionais da política lusitana. Em outubro de 2019, a agremiação conseguiu eleger seu primeiro deputado.
Portugal, que até pouco tempo atrás parecia resistir ao avanço da onda de direita radical que se espalha pela Europa, assiste, agora, a um aumento da popularidade de iniciativas desse tipo. Pesquisas de intenção de voto mostram que o recém-criado Chega, partido populista calcado em propostas nacionalistas e discurso antissistema, tem crescido em popularidade, igualando ou até ultrapassando o desempenho de legendas tradicionais da política lusitana. Em outubro de 2019, a agremiação conseguiu eleger seu primeiro deputado.
Levantamento realizado pelo instituto Intercampus indica que, se as eleições fossem hoje, o partido teria 6,2% dos votos, superando o CDS-PP, tradicional sigla da centro-direita, e muito próximo do desempenho do Partido Comunista Português, um dos protagonistas desde a redemocratização do país, em 1974.
Surfando na onda conservadora, o midiático líder do Chega, André Ventura (representante do partido no Parlamento) anunciou que vai concorrer às eleições presidenciais de janeiro de 2021.
Portugal é uma democracia parlamentar, onde o chefe de governo é o primeiro-ministro. O presidente da República tem função institucional, embora com poder de vetar leis e ainda de dissolver a Assembleia de República e convocar novas eleições.
O atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, tem mais de 85% de aprovação, mas não confirmou se tentará a reeleição. No fim de outubro, o presidente teve de passar por um cateterismo por conta de problemas cardíacos.
Embora afirmem que as chances de vitória do Chega nas eleições presidenciais sejam bastante remotas, cientistas políticos consideram que o pleito poderia ser uma importante plataforma de difusão da mensagem do partido. "Por ter apenas um deputado na Assembleia da República, o tempo de fala do partido é bastante limitado. A candidatura às presidenciais com certeza seria uma forma de ter um espaço ampliado para divulgar suas mensagens", avalia Paula Espírito Santo, professora do instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.
Para André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, o pleito pode servir para aumentar o capital político do partido. "A probabilidade de Ventura ganhar é quase zero, mas há um potencial, em termos eleitorais, de que o Chega tenha uma votação muito mais forte do que conseguiu nas legislativas. Ninguém acha que ele vai ter só 1% ou 2% dos votos."
Segundo o cientista político, em se tratando de eleições, os hábitos contam. "Se tivermos, nas presidenciais, 5% ou 10% do eleitorado que vote em Ventura, é uma parcela de cidadãos que, nas próximas eleições legislativas, terá menor resistência a votar no Chega."

Partido tem apoio de integrantes das Forças Armadas e da polícia

Com um forte discurso nacionalista e de combate à corrupção e ao crime, o Chega tem mobilizado apoio público de vários setores, especialmente os ligados à polícia e às Forças Armadas.
No fim de janeiro, durante um congresso do partido realizado na cidade do Porto, um militante foi gravado fazendo a saudação nazista na plateia. Representantes de grupos neofascistas também já declararam apoio público à legenda.
Em entrevista, Ventura negou que haja espaço para neonazistas no Chega. "Não há lugar para quem não respeite o espírito democrático, dentro do que é um Estado de Direito", afirmou. Ele mesmo, no entanto, já foi autor de declarações consideradas controversas, que vão desde propostas de castração química de pedófilos até trabalho obrigatório nos presídios.
Em janeiro, sugeriu que a também deputada Joacine Katar Moreira - que é negra e nasceu na Guiné Bissau - fosse "devolvida a seu país de origem". A deputada havia acabado de propor um projeto de lei pedindo que Portugal devolvesse às ex-colônias o acervo que estivesse em posse de museus e arquivos nacionais lusos.
Nas últimas eleições legislativas de Portugal, em outubro, a esquerda saiu vitoriosa. O Partido Socialista, do premiê António Costa, garantiu 108 dos 230 assentos: um aumento de 22 deputados em relação à legislatura anterior.
Já o desempenho dos tradicionais partidos de direita foi um dos piores desde a redemocratização. Principal legenda da oposição, o PSD perdeu dez deputados. Mais à direita, o CDS-PP viu sua bancada encolher de 18 para apenas cinco deputados. Perdendo espaço para a direita mais radical, os partidos da centro-direita tentam reagir. No caso do CDS-PP, por exemplo, houve um movimento de guinada ainda mais à direita, com bandeiras contra o aborto e o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.