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Argentina

- Publicada em 16 de Fevereiro de 2020 às 20:26

Argentinos usam férias no Uruguai para conseguir dólares

Restaurantes e hotéis estão usando o 'dólar-hermano' para argentinos, cobrando 30% a menos deles

Restaurantes e hotéis estão usando o 'dólar-hermano' para argentinos, cobrando 30% a menos deles


CLAUDIO FACHEL/ARQUIVO/JC
"Acabou de estrear a nova temporada de 'Narcos - México', e eu não queria perder por nada neste mundo", diz à Folha de S.Paulo o estudante Nahuel, de 21 anos, que cursa engenharia na Universidade de Buenos Aires. Como sua família tem poucos recursos, ele conta que não tem como pedir dinheiro para muitos "extras" para se manter na capital. Entre eles, sua conta de Netflix.
"Acabou de estrear a nova temporada de 'Narcos - México', e eu não queria perder por nada neste mundo", diz à Folha de S.Paulo o estudante Nahuel, de 21 anos, que cursa engenharia na Universidade de Buenos Aires. Como sua família tem poucos recursos, ele conta que não tem como pedir dinheiro para muitos "extras" para se manter na capital. Entre eles, sua conta de Netflix.
Desde que o presidente argentino, Alberto Fernández, estabeleceu o "impostaço", de 30% para compras de dólar, em dólar ou cartão de crédito em sites estrangeiros, e de 9% para assinaturas de serviços de streaming, a conta da Netflix ficou mais salgada. Mas não para Nahuel e seus amigos. "Tenho um amigo que é fera com essa coisa de mudar o endereço eletrônico de computador. Aí uso um cartão de outro amigo, que é colombiano, e ele paga para mim, tudo lá fora."
Os sistemas para burlar os novos impostos estão ficando cada vez mais criativos. Ter cartão de crédito estrangeiro é a maneira mais comum para evitar o imposto em compras de passagens aéreas, ainda mais na época de férias.
Muitos argentinos que recebem pagamentos do exterior preferem ter contas no Uruguai, onde é possível ter uma conta sendo estrangeiro e recebendo em dólar. Com um cartão de crédito ou débito uruguaio, pode-se fazer compras em sites estrangeiros ou em agências de viagem sem pagar o imposto.
Outra mania nacional que se agravou com as novas medidas econômicas é a de comprar dólares para poupar. Como já é tradicional desde os anos 1970, os argentinos confiam pouco ou nada no sistema bancário do país - o que se agravou com a hiperinflação de 1983 e com a crise de 2001. Por isso que poupar significa ter dólares. Pode-se guardar em casa, em uma conta no Uruguai ou em um cofre de uma agência bancária, mas raramente em uma conta de poupança administrada por um banco argentino.
Como está vigente a regra de que não se pode comprar mais de US$ 200 por mês de modo oficial, as vias alternativas se multiplicaram. A mais utilizada é a do dólar blue, muito mais caro, mas acessível nas "cuevas" (casas clandestinas) ou por meio dos "arbolitos" (vendedores ilegais nas ruas). A diferença é que, pelo câmbio oficial, pagam-se 63,5 pesos argentinos para comprar um dólar. No blue, o valor está entre 76 e 80.
Outra maneira é, novamente, recorrer ao país vizinho. Nos caixas eletrônicos de Montevidéu ou de Colônia do Sacramento (a uma hora de barco de Buenos Aires), há filas enormes de argentinos para sacar dólares.
Neste período de férias, há vários truques sendo usados nos balneários. Alguns restaurantes e hotéis passaram a usar o "dólar-hermano", ou seja, se o cliente é argentino, cobram-se dele 30% a menos. "Quando vimos que ia haver esse imposto, pensamos que a temporada de verão estava perdida, mas mesmo assim vieram menos", conta Horacio, de 62 anos, dono de uma pousada em La Pedrera.
Outra estratégia que os argentinos vêm tentando, nem sempre com sucesso, é pedir que os hotéis uruguaios cobrem mais deles, em pesos, mas que lhes devolvam o troco em notas de dólar, para voltar com estas para a Argentina e, com isso, trocar no blue.

Fernández não vai à posse de Lacalle e adia encontro com Bolsonaro

Não deve acontecer no Uruguai a primeira reunião entre os presidentes do Brasil e da Argentina, que estava sendo costurada para reaproximar as duas maiores economias do Mercosul. Neste domingo (16), em entrevista a um canal de TV argentino, o presidente Alberto Fernández confirmou que não vai à posse do eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou.
A razão, segundo ele, é a sobreposição de agendas. No dia 1º de março, quando o uruguaio assume oficialmente o cargo, Fernández estará em Buenos Aires para fazer um discurso que marca a abertura das sessões legislativas do Congresso argentino.
Trata-se do pronunciamento mais importante do ano, em que o presidente elenca as prioridades, na presença dos Congressistas, de integrantes do Supremo Tribunal de Justiça e de todos os ministros.
Espera-se que Fernández apresente as primeiras medidas econômicas para enfrentar a crise, explique em que pé estão as negociações da dívida com o FMI e trate de outros temas sociais que estão no centro de sua agenda, como o combate à pobreza, um novo tratamento legislativo da lei do aborto e outros temas.
Na quinta-feira (13), o presidente Jair Bolsonaro havia dito que se encontraria com Fernández em Montevidéu, depois de receber o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá. O chanceler viajou a Brasília para transmitir a mensagem ao governo brasileiro de que Fernández é moderado e que não comunga das ideias da esquerda radical. Ele prometeu que seu país não será "uma trava" para as negociações de acordos comerciais do Mercosul.
O objetivo era tentar superar o clima de desconfiança que rege as relações entre os dois países desde a campanha eleitoral argentina, marcada por trocas de críticas entre Bolsonaro e Fernández, cuja vice é a ex-presidente Cristina Kirchner. Na época, o presidente brasileiro chegou a expor sua preferência pela reeleição do liberal Mauricio Macri.
Apesar de não ir a Montevidéu para a posse, Fernández afirmou na entrevista à TV que está combinando uma visita a Lacalle Pou nas próximas semanas. Já o uruguaio declarou que não vai convidar para a cerimônia o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, o da Nicarágua, Daniel Ortega, e o dirigente cubano, Miguel Díaz-Canel.
Sobre o encontro com o Bolsonaro, Fernández disse que pretende que seja logo. "Estou sempre disposto."