Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Estados Unidos

- Publicada em 19 de Dezembro de 2019 às 20:51

Trump ataca democratas e desdenha de impeachment

Presidente chamou Nancy Pelosi de "louca" e disse que processo é uma "desgraça"

Presidente chamou Nancy Pelosi de "louca" e disse que processo é uma "desgraça"


SCOTT OLSON/AFP/JC
Em um dia histórico para a política norte-americana, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, na noite de quarta-feira, o impeachment do presidente Donald Trump. De maioria democrata, o plenário da casa registrou 230 votos a favor e 197 contra a acusação de que o presidente cometeu abuso de poder ao pressionar a Ucrânia a investigar Joe Biden, seu principal adversário na eleição de 2020. O presidente também é acusado de obstruir o Congresso ao atrapalhar as investigações depois que o episódio foi descoberto - foram 229 votos a favor e 198 contra a denúncia.
Em um dia histórico para a política norte-americana, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, na noite de quarta-feira, o impeachment do presidente Donald Trump. De maioria democrata, o plenário da casa registrou 230 votos a favor e 197 contra a acusação de que o presidente cometeu abuso de poder ao pressionar a Ucrânia a investigar Joe Biden, seu principal adversário na eleição de 2020. O presidente também é acusado de obstruir o Congresso ao atrapalhar as investigações depois que o episódio foi descoberto - foram 229 votos a favor e 198 contra a denúncia.
Trump adotou uma postura desafiadora após ter seu impeachment aprovado. Durante um comício em que discursou a apoiadores por pouco mais de duas horas no interior do estado de Michigan, ele afirmou que o Partido Democrata adotou uma "marcha suicida" ao articular sua deposição.
"Os deputados democratas da louca Nancy Pelosi (presidente da Câmara) se marcaram eternamente com a vergonha", disse Trump na cidade de Battle Creek, minutos após ter se tornado o terceiro presidente do país a ter o impeachment aprovado pela Câmara. "É uma desgraça."
Enquanto o impeachment era discutido em Washington, Trump se apresentava em meio a um cenário natalino, com árvores de Natal e uma lareira cenográfica dispostas no palco. Os democratas foram alvo de críticas durante vários momentos do discurso: o presidente disse que o processo de impeachment que os rivais conduziram foi ilegal e que o partido demonstrou "profundo ódio e desprezo" pelos eleitores.
"Após três anos de sinistras caças às bruxas, embustes, golpes, hoje (quarta-feira) à noite, os deputados democratas estão tentando tornar nulos os votos de dezenas de milhões de americanos patriotas", afirmou o presidente. Os democratas, segundo Trump, estão "interferindo nas eleições" e "subvertendo a democracia americana". "Nem parece que estamos sofrendo impeachment", disse o republicano, logo após subir ao palco. "Não sei de vocês, mas eu estou vivendo um bom momento. É uma loucura."
 

Presidente só sai do cargo se ação passar no Senado

Eram necessários 216 votos para aprovar o impeachment em pelo menos uma das acusações - maioria simples dos 430 deputados em plenário -, mas o resultado ainda não é suficiente para tirar Trump da presidência.
Ao contrário do Brasil, onde o afastamento do chefe de governo ocorre imediatamente após o Senado receber a denúncia de impeachment aprovada pela Câmara, o presidente dos EUA só deixa o cargo após o aval do Senado, hoje com maioria republicana.
A partir de janeiro, os 100 senadores, 53 deles republicanos, serão os jurados das acusações chanceladas pelos deputados, em sessões comandadas pelo presidente da Suprema Corte, John Roberts.
O avanço do impeachment, porém, vai além dos trâmites legais. O processo é pano de fundo da eleição do próximo ano e tem servido de estratégia aos dois lados de um polarizado tabuleiro político.
O desfecho na Câmara, de maioria oposicionista, já era esperado em Washington, mas servirá de reforço à narrativa dos democratas de que Trump não tem mais condições de liderar o país. A expectativa da oposição é a de que o passo concreto dado nesta quarta-feira estimule o apoio popular em torno do tema e pressione os senadores a também votar pelo impeachment.
O cenário é favorável a Trump no Senado, e os democratas sabem disso. Os republicanos têm maioria na casa e apostam nisso para enterrar de vez o processo. Ali são necessários mais de dois terços dos votos. Ou seja, no mínimo 67 dos 100 senadores precisam votar contra Trump, possibilidade remota visto que o presidente goza de expressivo apoio dentro do seu partido, e poucas defecções são esperadas.
Analistas e políticos norte-americanos avaliam ainda que o impeachment se tornou mais um elemento da polarização em que já estão mergulhados os EUA, sem grande potencial de reflexo no voto do eleitorado em 2020.
Quem não gosta de Trump, dizem, usará a aprovação na Câmara como argumento de que ele abusou do cargo e deve sair, enquanto quem o defende tentará capitalizar a provável decisão dos senadores de rejeitar o processo.
Trump tem força em sua base eleitoral, energizada com a repetida retórica de que o presidente é vítima de uma caça às bruxas inventada pelos democratas e alimentada, na sua avaliação, pela imprensa americana.
Os bons índices da economia - com taxas de desemprego baixíssimas e crescimento do PIB (Produto Interno Bruno) em 2% mesmo com a crise global - também têm ajudado o discurso do republicano.
As pesquisas mais recentes mostram a população dividida quanto ao impeachment: cerca de 47% querem que Trump seja removido do cargo, enquanto 46% são contra o afastamento do presidente.

Pressão para investigação de opositor motivou processo

As informações de que Trump havia pressionado a Ucrânia a investigar Joe Biden e o filho dele, Hunter, foram o estopim que levou a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a dar início ao processo de impedimento do presidente. Em 24 de setembro, ela anunciou a abertura do impeachment e deu início ao inquérito contra Trump.
A partir daí, o Comitê de Inteligência da Câmara conduziu interrogatórios sobre as acusações com diplomatas, funcionários de alto escalão do governo e especialistas. No fim de novembro, as audiências se tornaram públicas, em uma estratégia da oposição para angariar apoio popular à tese de que Trump atuou de forma irregular quando pressionou a Ucrânia.
E as testemunhas não decepcionaram. Em depoimentos transmitidos pela TV, confirmaram que o presidente havia condicionado ajuda militar de US$ 391 milhões ao país do Leste europeu a apurações contra os Biden. A contrapartida é um dos pilares cruciais da oposição para mostrar o desvio de conduta e abuso de poder.
Em 3 de dezembro, o Comitê de Inteligência da Câmara divulgou seu relatório sobre o processo. Em seguida, foi a vez do Comitê Judiciário começar os trabalhos para deliberar se os atos do republicano se enquadravam nas definições do Artigo 2º, Seção 4, da Constituição dos EUA, que traça as regras para o impeachment. A Carta estabelece que o presidente "deve ser removido do cargo através do impeachment se condenado por traição, suborno e outros altos crimes".
O deputado democrata Jerry Nadler, presidente do comitê responsável por redigir as acusações contra, chegou a convidar o republicano a depor, mas ele se negou. Após a elaboração das acusações, o processo seguiu para o plenário da Câmara.
Esta é a terceira vez que a Câmara aprova o impeachment de um presidente dos EUA. Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998, sofreram impeachment na Câmara, mas foram absolvidos pelo Senado. Richard Nixon renunciou antes da votação da Câmara em 1974.