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Mercosul

- Publicada em 11 de Dezembro de 2019 às 03:00

Fernández defende conciliação política

Ao final do discurso, com lágrimas nos olhos, Alberto Fernández agradeceu a Néstor Kirchner

Ao final do discurso, com lágrimas nos olhos, Alberto Fernández agradeceu a Néstor Kirchner


/JUAN CARLOS CARDENAS/ARGENTINA'S SENATE/AFP/JC
Em seu discurso de posse como presidente da Argentina, realizado ontem no Congresso, Alberto Fernández defendeu a conciliação política no país e prometeu colocar o bem-estar dos argentinos à frente do pagamento da dívida externa.
Em seu discurso de posse como presidente da Argentina, realizado ontem no Congresso, Alberto Fernández defendeu a conciliação política no país e prometeu colocar o bem-estar dos argentinos à frente do pagamento da dívida externa.
Gabriela Michetti, vice de Mauricio Macri, recebeu Fernández e a nova vice-presidente, Cristina Kirchner, e conduziu o juramento de ambos. Macri apareceu depois do juramento, como manda o protocolo, entregou o bastão e a faixa presidencial a Fernández, e deu-lhe um abraço. Os dois se cumprimentaram de modo efusivo. Já Cristina o cumprimentou com frieza, sem olhá-lo nos olhos.
Sobre a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), disse que a ideia é pagar, "mas antes temos que crescer", e que a negociação com o fundo já estava sendo feita neste sentido. "Não podemos apresentar uma solução que comprometa o futuro de milhões de argentinos."
"Estamos em uma emergência social em que é preciso começar pelos últimos", afirmou. Ele disse que há "muros" por superar, os "muros da pobreza, da desigualdade, das disparidades do país. Esses são os muros que existem, não os muros ideológicos. Temos que deixar de apostar na polarização, digo isso para os que votaram em mim e para os que não votaram".
Fernández culpou a política econômica do governo de Mauricio Macri pela crise que vive o país e afirmou que "o Estado estará presente, oferecendo linhas de créditos e de bônus, além de recursos para investimentos".
Também afirmou que "as contas serão claras", e que jornalistas que não trabalham em um meio não receberão recursos, algo que ocorreu durante as gestões de Macri e de Cristina, com relação a jornalistas pró-governo.
Sobre as mulheres, afirmou "nem uma a menos", o lema do coletivo feminista mais engajado do país, e que lutaria pelo fim da violência contra a mulher. E acrescentou que a discriminação pelo modo de ser, vestir-se ou atuar deve ser "imperdoável".
Sobre o Mercosul, referiu-se especialmente ao Brasil: "Com o Brasil, queremos construir uma relação que beneficie a toda a região e ao Mercosul, e isso irá ocorrer muito acima das ideologias de conjuntura".
Ao final, com lágrimas nos olhos, agradeceu a Néstor Kirchner, que "me ensinou a tirar a Argentina da prostração". Agradeceu, também, à militância. E ressaltou que quer que seu governo seja conhecido por trazer de volta "à mesa familiar a boa convivência de quem pensa diferente e de ter resolvido o problema da fome de muitas famílias".

Kirchneristas ficaram à espera do presidente em frente à Casa Rosada

Do lado de fora do Congresso, em Buenos Aires, onde ocorreu o juramento de Fernández, e da Casa Rosada, onde os ministros foram empossados, havia um grande público, compostos em boa parte por integrantes de organizações sociais kirchneristas, como o Movimento Evita, a Juventude Peronista, Unidos y Organizados, e outros.
Antes de sair de sua casa, em Puerto Madero, Alberto Fernández divulgou uma foto sua ao lado de seu cachorro, Dylan, tomando um suco e ajeitando a gravata. Deixou a residência dirigindo ele mesmo seu carro, ao lado da namorada, Fabíola Yañez. O trajeto foi transmitido em suas redes sociais.
Ao entrar no Congresso, foi recebido pela vice de Macri, Gabriela Michetti, que é cadeirante. Ele a levou, empurrando sua cadeira de rodas até o palco. A nova vice-presidente, Cristina Kirchner, os acompanhou. Michetti tomou o juramento de ambos.
No Congresso, estavam parlamentares, ex-presidentes, ministros, delegações estrangeiras e familiares dos eleitos. O filho de Fernández, Estanislao, de terno e gravata, dava entrevistas e era muito cumprimentado.
Depois que terminaram de jurar, ouviu-se a marcha peronista, cantada aos gritos pelos presentes. Os eleitos e os ministros recém-designados acompanharam o coro.
Macri apareceu depois do juramento, como manda o protocolo. Os peronistas continuaram cantando a marcha. Macri esperou silenciosamente. Seus apoiadores o aplaudiam, mas foram suplantados pelo canto peronista.
Fernández levantou a mão e pediu que as pessoas se calassem. Logo, Macri entregou o bastão e a faixa presidencial a Fernández, e deu-lhe um abraço. Os dois se cumprimentaram de modo efusivo e trocaram algumas palavras. Já Cristina o cumprimentou com frieza, apenas apertando sua mão e sem olha-lo nos olhos. Logo depois disso, Macri deixou o recinto.
Em seu discurso, Fernández voltou a dizer que a Segurança será voltada à prevenção, e não à repressão. Fez uma referência clara à posição do governo anterior, para quem "estava bem atirar pelas costas. Nós não faremos isso". Durante a gestão Macri, policiais que matavam suspeitos de assalto tinham uma pena abrandada.
Referiu-se à verba publicitária, da qual dependem vários meios, dizendo que haverá uma redistribuição e uma nova estrutura para a entrega dos recursos. Durante o kirchnerismo, a distribuição da verba publicitária para os meios era usada como uma maneira de controlá-los.
Também afirmou que "as contas serão claras", e que jornalistas que não trabalham em um meio não receberão recursos, algo que ocorreu durante as gestões de Macri e de Cristina Kirchner, com relação a apresentadores e jornalistas pró-governo.
Sobre as mulheres, afirmou "Nem uma a menos", o lema do coletivo feminista mais engajado do país, e que lutaria pelo fim da violência contra a mulher. E acrescentou que a discriminação pelo modo de ser, vestir-se ou atuar deve ser "imperdoável".
Ao final, com lágrimas nos olhos, agradeceu a Néstor Kirchner, que "me ensinou a tirar a Argentina da prostração". Agradeceu, também, à militância. E ressaltou que quer que seu governo seja conhecido por trazer de volta "à mesa familiar a boa convivência de quem pensa diferente e de ter resolvido o problema da fome de muitas famílias".

Mais do que vice, Cristina terá atuação no Congresso

Muito se discutiu sobre qual será a atuação de Cristina Kirchner em sua volta ao poder na Argentina, agora na condição de vice. Porém, o cenário parece estar delineado. A ex-mandatária terá função estratégica junto ao Congresso e aos ministérios, e também coordenará a relação do Executivo com as províncias, responsabilidade que concedeu a si mesma.
Segundo a lei argentina, o vice-presidente comanda as sessões do Senado. Cristina, no entanto, fará um pouco mais do que isso. Assim como designou Fernández para ser o candidato a presidente em sua chapa, ela e seu grupo montaram as listas de candidatos à Câmara de Deputados e ao Senado.
Em ambas as casas, o peronismo terá maior número de vagas, reforçado pela virada de lado de três congressistas da aliança de Macri (Juntos por el Cambio), que se aliaram ao bloco governista.
Na Câmara de Deputados, terá como líder da bancada Sergio Massa, que foi seu chefe de Gabinete no primeiro mandato e abdicou da candidatura presidencial para apoiar a chapa kirchnerista. Outro com papel importante será Máximo Kirchner, filho de Cristina e líder da agrupação La Cámpora, que contará com representantes em pontos-chave - como no Ministério do Interior.
Massa e Máximo garantem a influência de Cristina em duas comissões estratégicas no Congresso. Na do Orçamento, ela terá como influenciar os repasses para as províncias, o que a coloca como operadora política de Fernández junto aos governadores.
Outra área à qual Cristina terá acesso direto é a da designação de juízes. Uma reforma, de 2017, passou a exigir aval do Congresso para algumas nomeações. Esse ponto é crucial, uma vez que ela é investigada em nove casos de corrupção.
A decisão de colocar Martín Guzmán como ministro da Economia se deu, também, por insistência de Cristina, uma vez que é seguidora do ganhador do Nobel Joseph Stiglitz, padrinho do escolhido. Foi ela quem deu a palavra final entre os que disputavam a vaga.

Mourão diz que 'Brasil e Argentina têm que se ajudar mutuamente'

Enviado de última hora à Argentina para a posse do presidente Alberto Fernández, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, disse a jornalistas que estava "contente por representar o Brasil" e que "ambos os países têm de se ajudar mutuamente".
Mourão chegou a Buenos Aires na noite de segunda-feira, depois de uma decisão do presidente Jair Bolsonaro, e hospedou-se na residência da Embaixada do Brasil.
O futuro embaixador do Brasil na Argentina, Daniel Scioli, valorizou a presença de Mourão na posse, dizendo ser um gesto "contundente e muito positivo para a nova relação que começa e, principalmente, para o comércio bilateral".
Acrescentou, ainda, que pretende, como embaixador, "superar o mal-estar inicial e encerrar a divisão que há entre os dois países". "As diferenças que tivemos no início devem ficar no passado. Sou um homem de experiência justamente nisso, em promover reconciliações", disse.
Além de Mourão, participaram os presidentes do Peru, Martín Vizcarra; do Paraguai, Mario Abdo; do Uruguai, Tabaré Vázquez - acompanhado do presidente eleito, Luis Lacalle Pou. O chileno Sebastián Piñera cancelou a ida devido ao desaparecimento de um avião da Força Aérea na noite anterior.