O presidente do Peru, Martín Vizcarra, dissolveu ontem o Congresso, após um prolongado enfrentamento com a oposição, no que constitui o choque recente mais profundo entre os poderes do Estado, com uma decisão que não ocorria há mais de 27 anos. Em discurso à nação, Vizcarra disse que foi negado a ele um voto de confiança, por isso "decidi dissolver o Congresso e convocar eleições de congressistas da República". O Legislativo respondeu de forma imediata e apresentou um pedido de vacância presidencial.
No fim de julho, Vizcarra havia anunciado que buscava adiantar as eleições devido às constantes travas e fricções com o Congresso unicameral, dominado pelo partido opositor Fuerza Popular, dirigido por Keiko Fujimori, que perdeu as eleições em 2016 e está presa desde outubro de 2018, enquanto os promotores a investigam por supostos vínculos com a construtora brasileira Odebrecht.
Segundo a Constituição peruana, um presidente pode fechar o Congresso e convocar eleições para eleger novos parlamentares, caso o Legislativo rejeite em duas oportunidades um voto de confiança. A Casa já havia negado um voto de confiança ao governo durante a gestão de Pedro Pablo Kuczynski, que Vizcarra substituiu após a renúncia por acusações de vínculos com a Odebrecht.