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Internacional

- Publicada em 01 de Agosto de 2019 às 14:32

Oposição pede impeachment de presidente do Paraguai por acordo sobre Itaipu

Presidente eleito do Paraguai, Mario Abdo Benítez é acusado de traição à pátria

Presidente eleito do Paraguai, Mario Abdo Benítez é acusado de traição à pátria


ANTONIO CRUZ/ABR/JC
Partidos de oposição do Paraguai anunciaram nesta quarta-feira (31) que apresentarão um pedido de impeachment contra o presidente, Mario Abdo Benítez, e o vice-presidente, Hugo Velázquez, em meio a uma crise política detonada pela assinatura de um acordo energético com o Brasil.
Partidos de oposição do Paraguai anunciaram nesta quarta-feira (31) que apresentarão um pedido de impeachment contra o presidente, Mario Abdo Benítez, e o vice-presidente, Hugo Velázquez, em meio a uma crise política detonada pela assinatura de um acordo energético com o Brasil.
Políticos e parlamentares reagiram contra a assinatura do acordo, que estabelece um cronograma para a compra de energia gerada pela hidrelétrica binacional Itaipu até o ano de 2022.
O acordo -fechado em maio, mas conhecido publicamente apenas na semana passada- elevará os custos para a empresa estatal de eletricidade do Paraguai em mais de US$ 200 milhões, segundo legisladores e o ex-diretor da entidade.
"Vamos preparar a documentação necessária para o processo por traição à pátria. Isso significa mau desempenho, e serão necessárias novas eleições", disse Efraín Alegre, presidente do Partido Liberal, a principal sigla de oposição no país.
"Decidimos dois pontos: primeiro, impulsionar o impeachment do presidente da nação e do vice-presidente; o segundo, a ação penal a todos os envolvidos nessa situação de crise pelo tema de Itaipu", afirmou a presidente do Partido Revolucionário Febrerista, Josefina Duarte.
A oposição convocou ainda manifestações para a próxima sexta-feira (2).
O processo de impeachment deve ser iniciado na Câmara dos Deputados, onde são necessários 53 votos para a acusação.
A abertura do processo foi garantida pela adesão, na noite de quarta, do Honra Colorada, movimento dissidente liderado pelo ex-presidente Horacio Cartes -as siglas da oposição, como o Partido Liberal Radical Autêntico, o Partido Encontro Nacional e outros, reuniam apenas 38 votos.
Nesta segunda (29), o chanceler do Paraguai, Luis Castiglioni, e outros três altos funcionários do governo renunciaram, após o Executivo paraguaio pedir a anulação de ata assinada com o Brasil em maio e publicada neste final de semana.
Além de Castiglioni, renunciaram Alcides Jiménez, que havia assumido o cargo de chefe da companhia estatal de energia Ande há poucos dias; Hugo Saguier, embaixador do Paraguai no Brasil; e José Alderete, diretor paraguaio de Itaipu.
O embaixador americano em Assunção, Lee McClenny, usou uma rede social para expressar sua "profunda preocupação" com o processo de impeachment. "Esperamos que os processos democráticos e a Constituição sejam respeitados, tomando-se decisões com calma e de forma participativa", escreveu.
Diante da escalada da crise no Paraguai, o presidente Jair Bolsonaro prometeu nesta quarta-feira (31) ajudar seu contraparte e "fazer justiça" com o país vizinho.
Paraquedista militar, assim como foi Bolsonaro, e um dos principais aliados do presidente brasileiro na América do Sul, Abdo Benítez está sofrendo ameaças de impeachment desde que foram divulgados detalhes de uma ata diplomática que aumentou a quantidade de energia que a Ande (Administração Nacional de Eletricidade) do Paraguai contrata todos os anos de Itaipu.
"Nosso relacionamento com o Paraguai é excepcional, excelente. Estamos dispostos a fazer justiça nesta questão de Itaipu binacional que lá é importantíssima para o Paraguai e importante para nós", disse Bolsonaro.
"Ontem [terça] eu conversei com o [general Joaquim] Silva e Luna, o presidente da parte brasileira de Itaipu. Estamos resolvendo este assunto. Pode deixar que o Marito [Abdo Benítez] vai ser reconhecido pelo bom trabalho que está fazendo no Paraguai", acrescentou.
A ata diplomática determina que o Paraguai deverá aumentar paulatinamente o montante de potência contratada na hidrelétrica até 2022. Os novos valores são cerca de 50% superiores aos atuais.
Além disso, jornais paraguaios afirmam que o vice Velázquez pressionou negociadores para retirar do acordo uma cláusula que autorizaria a Ande a vender parte da energia paraguaia ao setor privado brasileiro.
De acordo com interlocutores do governo Bolsonaro, a renegociação dos valores era necessária para equacionar um antigo desequilíbrio que, na prática, levava o Brasil a subsidiar parte da eletricidade paraguaia.
Questionado se o Brasil cederia, Bolsonaro não quis dar detalhes. "Não é questão de ceder ao Paraguai. Não é meio a meio? A princípio é por aí. As pequenas derivações a gente acerta aí", disse.
Mais tarde, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, afirmou que o Brasil está aberto ao diálogo em caso de rescisão do acordo firmado no primeiro semestre deste ano.
"O presidente Jair Bolsonaro me comentou há pouco a sua intenção de estar aberto a essa discussão, inclusive em uma eventual denúncia do acordo de se colocar em posição de dialogar profundamente."
As distribuidoras Ande (Paraguai) e Eletrobras (Brasil) acordam anualmente a contratação da energia elétrica procedente da usina binacional, uma das maiores do mundo.
Em março, Abdo Benítez visitou o Brasil e discutiu a revisão de cláusulas financeiras envolvendo a hidrelétrica. À época, o ministro da Fazenda paraguaio, Benigno López, disse esperar que as negociações fossem justas e rápidas.
Na semana passada, o ex-presidente da Ande, Pedro Ferreira, já havia renunciado após discordar dos termos do acordo e se recusar a assiná-lo.
O Congresso paraguaio exigiu uma explicação do governo, enquanto os representantes da Ande se manifestaram em frente ao Congresso com cartazes dizendo "eles não terão paz enquanto violarem a Constituição".
Itaipu, que opera desde 1984, atualmente tem uma potência instalada de 14 mil megawatts. O Brasil consume cerca de 84% da energia da usina, o que representa 15% de toda a energia utilizada no país.
Os países se preparam para negociar o futuro de Itaipu com um importante adendo ao tratado fundador da hidrelétrica, que expirará em 2023.
Folhapress
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