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Congo

- Publicada em 01 de Agosto de 2019 às 03:00

Epidemia de ebola no Congo enfrenta rejeição a vacinas

Epidemia de ebola no país africano enfrenta rejeição a vacinas

Epidemia de ebola no país africano enfrenta rejeição a vacinas


PAMELA TULIZO/AFP/JC
Os esforços para a contenção da epidemia de ebola na República Democrática do Congo enfrentam uma série de obstáculos, entre eles a resistência de autoridades e da população às campanhas de vacinação, o foco considerado excessivo na doença e os conflitos no combate à moléstia com tradições locais. Na terça-feira, um segundo caso de paciente infectado pelo vírus foi detectado na cidade de Goma, a segunda maior do país. "É um sinal preocupante de que o surto claramente não está sob controle", disse, em nota, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Os esforços para a contenção da epidemia de ebola na República Democrática do Congo enfrentam uma série de obstáculos, entre eles a resistência de autoridades e da população às campanhas de vacinação, o foco considerado excessivo na doença e os conflitos no combate à moléstia com tradições locais. Na terça-feira, um segundo caso de paciente infectado pelo vírus foi detectado na cidade de Goma, a segunda maior do país. "É um sinal preocupante de que o surto claramente não está sob controle", disse, em nota, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
A notícia aumenta temores de que o vírus possa se estabelecer em uma área densamente povoada - 2 milhões de habitantes - e que sua propagação adquira caráter transfronteiriço. Já houve alertas de casos em Uganda e perto da fronteira com o Sudão do Sul.
Segundo autoridades locais, o novo paciente não tem relação com o caso detectado em Goma em julho, que resultou em morte e fez com que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarasse o surto como uma emergência internacional de saúde pública. Criada em 2005, a classificação só havia sido empregada em quatro ocasiões até agora.
"O trabalho tem sido feito com autoridades locais e religiosas para sensibilizar a população, desmistificar a doença, falar das precauções e impedir o aumento da contaminação", relata Antoine Gauge, chefe da missão do MSF para combater o ebola na fronteira com Ruanda.
"É um trabalho de respeitar a tradição e prevenir a doença", explica Gauge sobre o trabalho na região. Ele conta que o contato físico com o morto é um aspecto importante da cultura local. "Eles querem tocar, abraçar, mas é preciso alertar que isso leva a uma maior contaminação."
Fontes locais relatam que o uso de truculência pelas autoridades ao impor a restrição do acesso de familiares aos cadáveres acabou levando a uma maior resistência da população e à piora do acesso dos médicos. "Há uma resistência ainda devido à atenção maciça dada ao ebola e que não está na mesma escala da atenção dada a outras doenças", ressalta Gauge.
A preocupação vai além de obter atendimento médico para incluir questões como onde encontrar abrigo seguro nas regiões de conflito armado. Embora não seja uma região conflagrada, Goma fica na província de Kivu do Norte, com forte presença de milícias e grupos armados. Isso levou a uma revisão da estratégia da entidade, para oferecer à população opções de tratamento mais abrangentes, independentemente da doença, além dos cuidados para os casos de suspeita de ebola.
Desde que o surto foi registrado pela primeira vez, em agosto de 2018, mais de 1.700 mortes foram registradas no país. Em média, são contabilizados entre 75 e 100 novos casos por semana. Até 18 de julho, foram 2.438 casos. Entre 2014 e 2016, uma epidemia na África Ocidental matou mais de 11,3 mil pessoas.

Estratégia é imunizar todas as pessoas com quem os infectados tiveram contato

A estratégia dos agentes de saúde para a chamada vacinação "em anel" é identificar, imunizar e monitorar todas as pessoas com quem os infectados tiveram contato, bem como todos os seus contatos. Pela primeira vez, essa estratégia está sendo implementada em larga escala. Mas é um método demorado e complexo: além da dificuldade para identificar os contatos individuais de cada pessoa, há problemas de segurança em Kivu do Norte, onde ocorre a maioria dos casos. Centros de tratamento já foram atacados.
O estoque de vacinas experimentais da fabricante norte-americana Merck é considerado extremamente baixo - menos de mil doses. A ideia é aplicar uma segunda vacina experimental, da Johnson & Johnson, como uma espécie de parede de proteção em áreas ainda não afetadas pelo vírus.
Para alguns, a demissão, na semana passada, do ministro da Saúde, Oly Ilunga, que se opunha à vacinação em massa, pode destravar a ação. Porém, para agentes de saúde locais, ainda vai levar meses até que a desconfiança seja vencida e o tratamento comece a dar resultados.
"Os congoleses têm o direito de ter o 'padrão ouro', a melhor vacina. Eles não precisam se sujeitar a experimentações", afirmou Ilunga à Reuters logo após sua renúncia. Segundo ele, a eficácia das vacinas não foi comprovada. "Não podemos ter um grupo de promotores, produtores da vacina e pesquisadores de universidades querendo introduzir uma vacina sem contatar as autoridades sanitárias."
O MSF explica, no entanto, que toda sua atuação está sujeita à aprovação prévia pelo governo e que nenhum tratamento é dado sem consentimento explícito do paciente. Ativistas dizem que a população está assustada e confusa com os vários medicamentos em uso. Além das vacinas, há outros quatro tratamentos experimentais fornecidos a pacientes, sem licenciamento e em fase de ensaios clínicos.
"Não deveríamos introduzir uma segunda vacina se não temos conclusões cientificamente comprovadas da que já é testada", diz Matina Mwanack, do grupo Famílias Unidas contra o Ebola, na cidade de Butembo.