O deputado britânico Boris Johnson, de 55 anos, é o novo líder do Partido Conservador e deverá se tornar primeiro-ministro do Reino Unido hoje, substituindo sua correligionária Theresa May. O resultado da eleição interna (restrita a membros da legenda) foi anunciado na manhã de ontem.
Ex-ministro das Relações Exteriores e ex-prefeito de Londres (2008-2016), Johnson derrotou o atual chanceler, Jeremy Hunt, na etapa final da disputa por 66% a 34% dos votos. No começo da corrida, em junho, havia dez candidatos, mas o atual vencedor nunca foi ameaçado. Segundo o protocolo, May deve ter uma audiência com a rainha Elizabeth II hoje à tarde para entregar seu cargo e recomendar Johnson como sucessor.
Conhecido pelo estilo informal, pelas gafes e por projetos frívolos e onerosos, o deputado ascende à chefia de governo com a promessa de solucionar a maior crise da política britânica em décadas: como levar a cabo o Brexit, a saída da União Europeia (UE), decidida em plebiscito há três anos.
Durante a campanha, ele garantiu que, uma vez eleito, tiraria Londres do bloco em 31 de outubro - a terceira data-limite para a separação, após dois adiamentos -, não importa o que acontecesse. Isso quer dizer que o novo líder não descarta o chamado "Brexit duro", sem um acordo com a UE que prevê, entre outras coisas, uma fase de transição para que os dois lados se acostumem com o novo status.
Em pronunciamento curto após a divulgação do resultado da eleição, mais uma vez prometeu finalizar o adeus à UE até 31 de outubro e "reenergizar o país" com uma abordagem otimista para problemas. "Como um gigante adormecido, vamos despertar e nos livrar das amarras da falta de autoconfiança e do pessimismo com melhor educação, melhor infraestrutura e mais polícia e internet de banda larga por fibra óptica em cada casa", disse.
Ele falou ainda na importância de reconciliar dois instintos conflitantes: o anseio por cooperação internacional e livre-comércio e o desejo de autonomia dos governos nacionais. "Vamos unir este país fantástico e fazê-lo avançar."
Nos últimos dias, Johnson recebeu sinais de que enfrentará oposição, inclusive de alas moderadas de seu partido, se optar pela via da ruptura. O temor é o de que ele use um recesso para passar por cima dos deputados e impor uma saída não negociada. O Legislativo rejeitou três vezes o acordo proposto por May e, quando instado a propor uma alternativa, não chegou a um consenso. Mas se há um entendimento consolidado na Câmara, é o de que a despedida britânica da UE não deve ser abrupta.
Em paralelo, vários ministros do governo May anunciaram que deixariam seus postos caso a vitória do ex-chanceler se confirmasse, entre eles Philip Hammond, titular das Finanças, e David Gauke, da Justiça. No setor dos chamados "brexiteers", que defendem um divórcio sem concessões à Europa, também há expectativa em relação à concretização do discurso linha-dura do ex-chanceler.
Tanto críticos como apoiadores aguardam as primeiras nomeações ministeriais de Johnson e seu discurso inaugural para definir os próximos passos, mas, de toda forma, ele deve gozar de uma espécie de "salvo-conduto" até o começo de setembro, quando o Parlamento volta de seu recesso de verão.