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Venezuela

- Publicada em 25 de Fevereiro de 2019 às 01:00

Em Bogotá, Mourão descarta intervenção na Venezuela

Tensão nas zonas de fronteira se mantém em meio a impasse político

Tensão nas zonas de fronteira se mantém em meio a impasse político


/NELSON ALMEIDA/AFP/JC
Em Bogotá, na Colômbia, onde foi realizada a reunião do Grupo de Lima, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, fez um duro discurso ontem contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, classificando o governo chavista como um regime de "privilégios, discriminação e violência, que não respeita o estado de direito".
Em Bogotá, na Colômbia, onde foi realizada a reunião do Grupo de Lima, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, fez um duro discurso ontem contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, classificando o governo chavista como um regime de "privilégios, discriminação e violência, que não respeita o estado de direito".
Durante seu pronunciamento, feito todo em espanhol, Mourão rechaçou qualquer apoio do Brasil a uma intervenção militar na Venezuela, como o governo dos Estados Unidos sugeriu em mais de uma ocasião. Tanto o presidente Donald Trump quanto seu vice, Mike Pence, que participou da reunião em Bogotá, têm afirmado que "todas as opções estão sobre a mesa" no esforço de remover Maduro do poder.
Em sua declaração final, o Grupo de Lima reiterou a necessidade da saída Maduro, e a realização de novas eleições no país. Os presidentes, vice-presidentes e chanceleres pretendem pedir à Corte Penal Internacional que julgue Maduro pela "grave situação humanitária" que vive o país vizinho.
Na reunião, os líderes rejeitaram que a solução para a crise passe pelo uso da força, afastando a possibilidade de uma intervenção internacional. "(Os países presentes) reiteram sua convicção de que a transição para a democracia deve ser conduzida pelos próprios venezuelanos pacificamente e em respeito à Constituição e ao direito internacional, apoiada pelos meios políticos e diplomáticos, sem o uso da força", diz o documento, no item 16. O Grupo de Lima é formado por 14 países, dos quais apenas o México não reconhece Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.
Ainda em seu discurso, Mourão disse que Maduro está à frente de um governo "criminoso" e que o bloqueio à entrada de ajuda humanitária na Venezuela, neste fim de semana, foi uma "violação dos direitos humanos". O vice-presidente destacou que o governo de Maduro "é uma ameaça" que deve ser enfrentada com a convocação de eleições pela Assembleia Nacional (órgão legislativo controlado pela oposição). Também defendeu que o pleito conte com a fiscalização de entidades internacionais, como a Organização dos Estados Americanos.
O Brasil, segundo Mourão, tem um importante papel a desempenhar para que a paz e a segurança dos países do continente americano sejam mantidas. "Considerada nossa estatura político-estratégica na região, a tarefa não é somente liderar uma iniciativa de preservação da paz e da segurança nas Américas, mas oferecer o valioso exemplo de uma ação conjunta, equilibrada, prudente e consistente para superar a crise."
Em mais uma sinalização de que o Brasil se opõe a uma operação militarizada na Venezuela, Mourão disse que "é preciso devolver a Venezuela ao convívio democrático, sem medidas extremas". Entre as medidas, defendeu o emprego de sanções contra o regime chavista. Ele disse que essas sanções precisam ser buscadas nos fóruns internacionais.
Continuando o discurso, Mourão criticou a militarização da Venezuela nos últimos anos. Ele atacou, ainda, o regime chavista por ter "atraído atores estranhos à região", em uma referência velada à China e à Rússia. "Os grandes patrocinadores do regime são países que têm governos autoritários e totalitários."
A situação na fronteira do Brasil com a Venezuela também foi assunto ontem Brasília. Em reunião no Palácio do Planalto entre o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e os quatro comandantes das Forças Armadas. O encontro ocorreu após um fim de semana de tensão e conflitos em Pacaraima, Roraima, na fronteira, e a tentativa frustrada de envio de ajuda humanitária do governo federal ao país vizinho.
 

Vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence anuncia novas sanções

Pouco antes da fala de Mourão, o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, anunciou que os Estados Unidos vão endurecer ainda mais as penalidades contra altas autoridades da Venezuela e pediu que os países congelem as ações da petroleira PDVSA. Ele também defendeu que as nações aliadas transfiram os ativos do governo venezuelano para o autodeclarado presidente Juan Guaidó e restrinjam a emissão de vistos para pessoas próximas a Maduro. "Encontraremos cada dólar que eles roubaram e devolveremos esse dinheiro para o povo venezuelano à medida que continuaremos a trazer benefícios econômicos e diplomáticos", afirmou.
Pence também se dirigiu aos militares das Forças Armadas da Venezuela que se mantêm fiéis a Maduro. Ele destacou que é "chegada a hora" de compreender a legitimidade de Guaidó como presidente interino e aceitar a oferta de anistia. Do contrário, as consequências serão graves, e o isolacionismo é certo. "Vocês podem escolher aceitar a oferta de Guaidó de anistia, mas, se escolherem continuar a apoiar Maduro, serão responsabilizados. Vocês não vão encontrar nenhuma saída fácil, nenhuma escapatória", ressaltou.

Mais de 160 militares venezuelanos desertaram para o Brasil e a Colômbia

Pelo menos 162 militares venezuelanos abandonaram seus cargos e fugiram para o Brasil e para a Colômbia desde sábado, dia 23, quando agentes da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) fizeram cordões de isolamento na fronteira da Venezuela com os dois países, impedindo a entrada de ajuda humanitária, e reprimiram - em alguns casos, com violência - manifestações de apoio ao líder opositor Juan Guaidó.
Desses casos, 156 foram registrados nas passagens que ligam regiões venezuelanas aos estados colombianos de Norte Santander e Arauca, que receberam 146 e dez desertores, respectivamente. Em Pacaraima, no Brasil, buscaram proteção seis sargentos das Forças Armadas do país vizinho.
Os casos mais recentes foram registrados ontem, quando três sargentos da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) desertaram e fugiram para o Brasil. Eles vieram por trilhas na vegetação rasteira, e foram encontrados por uma patrulha do Exército que fazia inspeções na fronteira. Um deles apresentava sinais de desidratação, com enrijecimento muscular.
No domingo, três membros da GNB também entraram no Brasil. "Nos quartéis militares, não há comida, não têm colchões. Nós, sargentos da GNB, estamos dormindo no chão", contou o sargento Carlos Eduardo Zapata, um dos três primeiros a chegar ao País.
Oficialmente, a fronteira venezuelana com o Brasil continua fechada desde quinta-feira por decreto de Nicolás Maduro. A passagem com a Colômbia foi totalmente bloqueada na noite de sexta-feira, após a realização do evento Venezuela Live Aid em Cúcuta, cujo objetivo é arrecadar US$ 100 milhões em 60 dias para fornecer ajuda aos venezuelanos.