A segunda metade do mandato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem tudo para ser ainda mais conturbada que a primeira. Além de começar em meio a uma paralisação parcial que já dura quase duas semanas, terá um Congresso mais hostil. Nesta quinta-feira, os democratas assumiram o controle da Câmara dos Deputados dispostos a não fazer concessões. Além disso, nem entre os republicanos Trump tem apoio irrestrito.
As últimas semanas já serviram de aperitivo para a nova dinâmica de poder que deve se instalar no Capitólio. Lideranças democratas deixaram claro que o presidente não terá a mesma facilidade para tocar sua agenda. O embate atual e que inaugura a nova era no Congresso se dá em torno do financiamento ao muro que o republicano quer construir na fronteira com o México. Trump quer recursos para construir a barreira, o que foi rejeitado pela oposição.
A construção do muro era promessa de campanha, mas o republicano dizia que o México pagaria pela obra. Recentemente, passou a justificar que o país vizinho estava arcando indiretamente com a obra, após a renegociação do acordo comercial que substituirá o Nafta - bloco formado por EUA, México e Canadá.
O impasse sobre o assunto deixa 25% do governo federal sem dinheiro, em uma paralisação parcial que entra no 13º dia. Para tentar desbloquear as conversas, Trump convidou, na quarta-feira, líderes do Congresso para uma reunião em uma sala de conferência localizada no porão da Casa Branca e usada por presidentes para lidar com crises domésticas ou ter discussões delicadas. Nenhum avanço ocorreu. Outra reunião está marcada para esta sexta-feira.
Enquanto isso, para tentar destravar o governo, os democratas pretendem fatiar a lei de financiamento ao governo. Em uma votação, ações com apoio bipartidário que financiariam agências como a Receita Federal e o Departamento de Interior até o final do ano fiscal, em setembro. Em outra, uma medida que estenderia o financiamento à segurança doméstica nos níveis atuais até 8 de fevereiro e incluiria US$ 1,3 bilhão para instalação de cercas, mas sem recursos para o muro de Trump - o que deve ser bloqueado no Senado, ainda sob controle republicano.
O financiamento ao muro não é o único tema a opor os dois lados. As pautas prioritárias da liderança democrata na Câmara incluem, por exemplo, direito a voto, financiamento de campanha eleitoral - uma das dores de cabeça atuais do presidente - e a exigência de que candidatos à presidência divulguem sua declaração de Imposto de Renda dos últimos três anos, algo que Trump se recusou a fazer voluntariamente em 2016.